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LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Tem como ser feminista e ser contra a LEGALIZAÇÃO do aborto?


PARA MIM, militante feminista, NÃO tem.

É questão de lógica e sororidade!

Você pode ser feminista e ser contra o ato do aborto no sentido de que você, independente da sua situação, não faria um. Até aí isso é problema seu, somente seu. Agora, ser feminista e querer impor suas convicções religiosas e/ou filosóficas na vida de outra mulher, limitando suas liberdades fundamentais/individuais sobre o próprio corpo, o mesmo que o patriarcado já faz, NÃO, pois é contraditório.

Feminista, de forma mais genérica possível, é a pessoa que luta a favor da EQUIDADE social, política e econômica entre os gêneros. Isso quer dizer que, quem é feminista, quer que homens e mulheres, mulheres e mulheres e homens e homens, além de pessoas não binárias, sejam tratadas socialmente de forma equânime, simétrica. A equidade (igualdade política, justiça e liberdade) não deve ser apenas entre mulheres e homens, mas entre mulheres e mulheres (e homens e homens), pois existem especificidades entre as mulheres.

Sobre tais especificidades, no caso da legalização do aborto, mulheres ricas abortam, têm dinheiro pra sair do país, para comprar ''remédios'', para garantir que a gravidez seja interrompida sem consequência de morrer por isso. Mulheres pobres morrem. Em açougues, clínicas clandestinas. A massa das mulheres que conseguem abortos bem-sucedidos é constituída de mulheres brancas. A massa das mulheres pobres que morrem em consequência de abortos clandestinos é constituída de mulheres NEGRAS, periféricas. ESSA É A REALIDADE.

O aborto ser criminalizado NÃO impede que a prática aconteça. A consequência imediata é a pena de morte para a mulher sem recursos financeiros, pois os ''pró-vidas'', com toda sua hipocrisia e moralismo, não impedem as mulheres ricas de abortarem... é fato!

Mas eles, os "pró-vidas", prezam pela vida humana... né? Vida humana? O que é essa forma de vida? Temos vários conceitos, desde o religioso, filosófico até o biológico, social. No sentido filosófico-religioso, um zigoto, amontoado de células, pode ser considerado uma vida. No sentido biológico, uma vida humana em potencial, em desenvolvimento, mas um organismo não-senciente, não individualizado.

Um organismo não individualizado, que depende de outro organismo autônomo para se desenvolver NÃO deve ter mais importância do que um ser humano que já vive. O problema dos pró-vidas, pró-nascimento forçado, anti-escolhas, não é salvar FUTUROS bebês, fetos sem sistema nervoso central - SNC (se você tiver morte cerebral, você tem perda da função do seu SNC, logo biologicamente você, ser humano, não está mais vivo - só lhe restará alguns sinais vitais que logo desaparecerão-, por que então um organismo sem SNC é considerado com a mesma vida que uma pessoa já nascida?), o que esses carrascos de mulheres querem é PUNIR a mulher, OBRIGÁ-LA a ter um filho indesejado, para que ela que não queria ser mãe, seja, independente se a criança terá ou não amparo familiar, financeiro, emocional etc.

Aos choradores de anticoncepcionais, vocês não me enganam nem me comovem, deixem de ser burros!... sugerir anticoncepcional NÃO resolve problema de quem JÁ ESTÁ grávida e não quer mais estar, sugiram camisinhas pra quem não está grávida, parem de censurar as minas que carregam camisinhas nas bolsas, que vão pegar em postos de saúde etc. É um começo.

Não tem como ser feminista e ignorar as milhares de mulheres que todo ano são mortas, mutiladas, carbonizadas em açougues porque seu moralismo te impede de enxergar a realidade SOCIAL.

Legalização do aborto é sobre saúde pública e direitos reprodutivos da mulher, não é sobre opinião pessoal de quem não faria um aborto, lembrem-se disso quando forem opinar sobre! Ninguém quer obrigar mulheres a abortarem, o que se defende é o direito da autonomia da mulher sobre o próprio corpo, sobre decidir se quer e está ou não preparada para ser mãe. Antes que comece o choro "e o corpo do bebê?", um ovo não é um pinto, um monte de algodão não é um tecido, um caroço de laranja não é uma laranjeira, um zigoto não é um bebê/criança. Uma vida humana em potencial não é o mesmo que uma vida humana! Se for pela vida, que seja pela de quem já vive.


Uma última consideração: por que em discussão sobre aborto, a reaçada sempre manda as minas fecharem as pernas ao invés de sugerirem que os machos é que deveriam ter usado camisinha no pintinho? Que eu saiba, a responsabilidade é de ambos, mas o ato de pôr o preservativo deve ser, normalmente, de quem tem pinto né não hue? Sugerir que a mulher não faça sexo não é argumento que deslegitime a necessidade da legalização do aborto. Sugerir contraceptivos também não, afinal do que adianta sugerir anticoncepcional pra quem JÁ ESTÁ grávida e desejaria não estar?

Ah é, entendi, é porque na verdade a reaçada queria dizer ''foda-se sua vagabunda, estou cagando pro fato de você não querer esse filho e pro fato de que caso você decida ir a um açougue, lá vão te mutilar e talvez você morra... só quero ser moralista e esfregar na sua cara que sei da existência de anticoncepcionais... e essa porra de zigoto que UM DIA vai se desenvolver e virar um bebê deve se foder com você, afinal estou me lixando pras condições em que essa FUTURA criança nascerá e será criada''.

A legalização do aborto é uma questão indissociavelmente feminista. Defender o aborto legal e seguro é defender os direitos humanos e reprodutivos das mulheres. É sobre emancipação feminina, e, também, sobre maternidade humanizada. Pois, a maternidade só é plenamente humana quando resulta de uma escolha consciente e não de uma imposição social e/ou fatalidade biológica.

Lizandra Souza.


Comentários

  1. Preciso de ajuda sobre aborto não sei qm procurar

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  2. Uma pergunta, caso o aborto for legalizado, quem pagaria pelo aborto? O sus ou a mãe que está abortando?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu não tenho certeza, mas pelo que entendo seria o SUS, agora se ele for apenas descriminalizado aí seria por conta da mulher... o que continuaria sendo o msm problema (a morte em açougues) com exceção da prisão, para mulheres periféricas...

      Excluir

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