Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Hierarquia de opressão?


Não acredito em hierarquia de opressão, isto é, que há uma opressão pior que a outra, do contrário eu teria que acreditar que a opressão x deve ser mais combatida que a y, o que é incoerente levando em conta o diálogo entre as mais formas de dominação-exploração existentes. 
Acredito que as opressões podem e atingem os sujeitos de forma a oprimir mais uns que a outros, mas isso quando elas estão inter-relacionadas diretamente no modo como os sujeitos são lidos socialmente e integram suas vivências a sociedade. Em outras palavras, racismo não é pior que machismo, o que é pior é você sofrer não só racismo, mas machismo também. E pior ainda se você for lésbica, pois sofrerá lesbofobia. E se for gorda, gordofobia. E pobre? Elitismo! E se tiver deficiência? Capacitismo! Se for nordestina? Xenofobia. E se... 
O recorte é necessário para se reconhecer privilégios em relação aos outros. Reconhecer privilégios é uma forma de empatia. Ser privilegiado em uma determinada opressão não quer dizer que você não sofra com outras e que outras pessoas não tenham privilégios em relação a você. 
Machismo, misoginia, homofobia, lesbofobia, bifobia, acefobia, panfobia, transfobia, racismo, capacitismo, elitismo, gordofobia... são opressões e em geral nunca atingem isoladamente os seres humanos, sabem por quê? Porque somos seres plurais. E é reconhecendo essa pluralidade que a gente melhor analisa e subverte o que nos afeta negativamente.

Lizandra Souza.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vamos falar de misandria?

 O que é misandria no feminismo?   É o ódio generalizado aos homens?   N Ã O.  A misandria geralmente é dicionarizada como sendo o ódio aos homens, sendo análoga a misoginia: ódio às mulheres. Esse registro é equivocado e legitima uma falsa simetria, pois não condiz com a realidade social sexista vivida por homens e mulheres. Não  existe uma opressão sociocultural e histórica institucionalizada que legitima a subordinação do sexo masculino, não existe a dominação-exploração estrutural dos homens pelas mulheres pelo simples fato de eles serem homens, todavia existe o patriarcado: sistema de dominação-exploração das mulheres pelos homens, que subordina o gênero feminino e legitima o ódio institucional contra o sexo feminino e tudo o que a ele é associado, como, por exemplo, a feminilidade. Um exemplo: no Nordeste é um elogio dizer para uma mulher que "ela é mais macho que muito homem", tem até letra de música famosa com essa expressão, contudo...

Glossário de termos usados na militância feminista (atual)

Já participou daquele(s) debate(s) feminista(s) e vez ou outra leu/ouviu uma palavra ou expressão e não soube o significado? E cada vez mais, em debates, você passou a ler/ouvir aquela(s) palavra(s)? E o tempo foi passando e mais termos e expressões foram surgindo? E o pior, você pesquisou no Google o significado e não achou? E as palavras, muitas vezes, não existiam nos dicionários formais? Se você respondeu sim, em pelo menos duas perguntas, aconselho conferir o glossário virtual a seguir, no qual pretendo expor e explicar brevemente alguns dos termos e expressões mais usados no meio do ativismo, em especial o virtual. Além dos vários termos e expressões que são usados há décadas nos meios feministas, nós temos também muitos termos e expressões usados atualmente na militância feminista que são fenômenos advindos dos estudos contemporâneos de gênero, outros, ainda, são resultantes da própria necessidade de ressignificação que determinadas pa...

História do adultério: modelos de comportamentos sexistas com dupla moral

Belmiro de Almeida - Arrufos, 1887 A história do adultério é a história da duplicidade de um modelo de comportamento social machista, possuidor de uma moral dupla, segundo a qual os homens, desde quase todas as sociedades antigas, tinham suas ligações extraconjugais toleradas, vistas como pecados veniais, sendo assim suas esposas deveriam encará-las como "pecados livres", que mereciam perdão, pois não era o adultério masculino visto como um pecado muito grave (a não ser que a amante fosse uma mulher casada), enquanto as ligações-extraconjugais femininas estavam ligadas a pecados e a delitos graves que mereciam punições, pois elas não só manchavam a honra e reputação da mulher adúltera, mas também expunham ao ridículo e ao desprezível seu marido, o qual tinha a validação de sua honra e masculinidade postas em jogo. Esse padrão social duplo do adultério teve sua origem nas culturas camponesas "juntamente com a crença de que o homem era o provedor da família e era ...

Falocentrismo, misoginia e a ditadura da beleza íntima: normatividades que fazem com que mulheres se odeiem cada vez mais

Beijinho só para quem não agride a ppk. Já pararam para pensar sobre o porquê de tantas mulheres passarem por procedimentos desagradáveis, cruéis e até mesmo perigosos  para se enquadrarem em determinados padrões ou estereótipos de beleza que, em geral, acreditam ser para o próprio bem-estar ou "gosto pessoal" mas que, na verdade, mascaram um gosto assimilado por uma cultura misógina e falocêntrica?  Falocentrismo é o culto ao falo, é a ideia machista de que o pênis é o centro do universo e tudo gira ao redor dele. Culturalmente, a figura masculina cisgênera representa o sujeito do falo, sujeito esse super-estimado socialmente. Aliado ao machismo, o falocentrismo é tão destrutivo que sustenta práticas culturais misóginas que fazem as mulheres odiarem o próprio corpo, até mesmo a própria genitália, pois há um padrão que essa deve seguir, padrão esse criado para o gosto masculino e reproduzido, sobretudo, pela indústria pornográfica: a ideia de uma vagin...

Por que as mulheres reproduzem machismo?

Me ensinaram a pensar assim... e agora? Por que as mulheres reproduzem machismo? Quais os mecanismos discursivos de (re)produção e sustentação da ideologia machista? Mulheres podem ser machistas mesmo não se beneficiando do machismo? Reproduzir machismo equivale a ser machista?  E stas foram algumas perguntas que me fiz há alguns anos quando comecei a ter contato mais íntimo com o movimento feminista ao mesmo tempo em que comecei a me dar conta de discursos machistas que eu reproduzia mais inconscientemente que conscientemente. Porém, somente a cerca de um ano eu comecei a ter respostas mais embasadas, teoricamente falando. Apesar de saber que nós mulheres reproduzimos machismo porque desde que nascemos nós somos inseridas numa sociedade machista que condiciona nossos pensamentos para que a ideologia machista seja internalizada e aceita por nós, isso nunca me bastou. Não me bastou porque mesmo depois de saber que nós somos ensinadas a r...