Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

O (não) uso do sutiã e a problematização feminista


A nova onda virtual feminista da vez é problematizar o uso do sutiã sem recorte histórico, social e individual. Por um lado, algumas militantes dizem que ''não usar sutiã é revolucionário'' e que ''a mulher que usa está se prendendo a moldes patriarcais de censura do corpo feminino'', do outro, outras alegam que ''não usar sutiã não é revolucionário ou empoderador'' e que ''só não usa quem tem "peito padrão", quem tem peito pequeno, quem está mais próxima do padrão estético de beleza''. A era do 8 ou 80... Muito pensamento autoritário e extremo/fechado de ambos os lados.
Eu vou problematizar o uso do sutiã enquanto objeto criado pra, por exemplo, ''camuflar mamilos femininos'', "dar outra aparência aos seios da mulher", "evitar [algo natural do corpo humano] que os seios caiam". 
Mesmo depois de mais de um século de sua existência, ainda há hoje todo um tabu sobre o sutiã. Se você o usa e ele aparece um pouco: "uiiiii miga, dá pra ver seu sutiã", se você não o usa "uiiiii miga, dá pra ver seu mamilo". A gente tem os mamilos censurados simplesmente porque os seios da mulher são sexualizados e isso tem muito a ver com o uso do sutiã, sobretudo o de enchimento. "É para esconder o mamilo polêmico", "é para deixar o peito levantado", "é para deixar o peito mais bonito"... 
A gente também não pode esquecer que se há todo um lado negativo, há também um positivo no uso do sutiã, pelo menos para mulheres que não se sentem bem por causa do padrão, para as mulheres com seios muito grandes que sentem desconforto se não usarem sutiã (não que todas essas passem por isso), para as mulheres que simplesmente não se sentem bem com os mamilos aparecendo e que por mais que isso seja fruto de socialização, elas NÃO devem ser intimidadas a deixarem de usar essa peça. 
Agora, ser um ato empoderador ou revolucionário na VIDA de uma mulher vai depender dela e da forma como ela encara o uso ou não-uso do sutiã. Há uma gama de fatores sobre escolher ou não usar essa peça, o que deve permanecer é o respeito as escolhas da mulher. Se você usa sutiã, tem macho que diz que você está fazendo propaganda enganosa, tratando seus peitos como mercadoria. Se você não usa sutiã, os caras parecem que nunca viram mamilo na vida e ficam te encarando/constrangendo. Se você usa sutiã e dá para ver que você está usando um, tem gente que dá logo pitaco. Se você não usa sutiã e dá para ver que você não está usando, tem gente que também dá logo pitaco. Se você não usa sutiã e não tem ''peito-padrão'', vão deslegitimar você. Se você não usa sutiã e tem "peito-padrão" vão dizer que você ''quer se mostrar''. 
Vejam como já tem discurso repressor demais para a gente perder tempo atacando quem usa ou deixa de usar sutiã e quem vê nisso ato de empoderamento próprio.



Lizandra Souza.

Comentários

  1. A nossa luta é pelo direito ao nosso corpo, isso inclui usar sutiã ou não, usar mini-saia ou não, usar piercing e tatuagem nas partes intimas ou não, depilar todo o corpo ou se transformar em uma macaca peluda ou não, viver a vida toda casta ou transar com Deus e o mundo ou não, andar pela rua sozinha de madrugada ou andar em bando ou não. Fazer aborto ou ter uma renca de filhos com ou sem pai ou não. Mas se até as migas companheiras têm problema pra entender isso, imagine a sociedade machista e patriarcal, não é?

    ResponderExcluir
  2. Que falta de respeito, se não existisse padrões na sociedade, o caos reinaria com cada um achando que o que faz é certo. O presente artigo chama o homem pelo nome de "macho", o que geraria uma terceira guerra mundial se fosse um homem chamando uma dama de "fêmea". Muitas feministas não desejam igualdade de direitos, ou "mostrar que mulher é gente" como enfatiza o próprio site, e sim acabar com a ordem posta por Deus no mundo. Desejo que suas vendas de ódio caiam, e que possam enxergar...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Argumentos que usam deus como base não tem valor.

      Excluir
    2. Oq é que Deus tem a ver com isso? KKKKKKKKKKKKKKJJJJJ

      Excluir
    3. Eu não sabia que Deus tinha imposto a ordem das mulheres precisarem esconder seus mamilos pq os homens não conseguem se conter vendo um mamilo em uma blusa feminina. Isso não tem nada a ver com Deus, mas sim com os padrões ridiculos, autoritários e machistas impostos pela sociedade. Não só o fato de usar sutiã, mas tbm vários outros padrões que a sociedade impõe que são desumanos, como a cultura do corpo perfeito. Então sim, os padrões q a sociedade impõe n são sempre para evitar o caos, mas para reprimir os direitos e torná-los imorais.

      Excluir
    4. Então, a sociedade não entraria em caos se derrubasse o seu padrão de beleza. Até pq isso muda de tempos em tempos, o problema é que estamos em uma época em que são padrões ridículos. Qual o problema de usar ou não um sutiã? Qual o problema de mostrar ou não? É só uma peça de roupa. E quanto ao ódio que vc diz termos... Não é ódio querermos nossos totais direitos.

      Excluir
  3. Acabar c a ordem posta por Deus no mundo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu sei! Essa parte aí fez me rir em voz alta. Li pró namorado e ele riu.
      Sobre o artigo: free the nipple, ou don't free the nipple. É poder escolher que importa.

      Excluir
  4. morrer ninguém quer nÉ!

    ResponderExcluir
  5. Tudo se resume na liberdade de escolha, sem ser julgada (or give a damn about).

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

Postagens mais visitadas deste blog

História do adultério: modelos de comportamentos sexistas com dupla moral

Belmiro de Almeida - Arrufos, 1887 A história do adultério é a história da duplicidade de um modelo de comportamento social machista, possuidor de uma moral dupla, segundo a qual os homens, desde quase todas as sociedades antigas, tinham suas ligações extraconjugais toleradas, vistas como pecados veniais, sendo assim suas esposas deveriam encará-las como "pecados livres", que mereciam perdão, pois não era o adultério masculino visto como um pecado muito grave (a não ser que a amante fosse uma mulher casada), enquanto as ligações-extraconjugais femininas estavam ligadas a pecados e a delitos graves que mereciam punições, pois elas não só manchavam a honra e reputação da mulher adúltera, mas também expunham ao ridículo e ao desprezível seu marido, o qual tinha a validação de sua honra e masculinidade postas em jogo. Esse padrão social duplo do adultério teve sua origem nas culturas camponesas "juntamente com a crença de que o homem era o provedor da família e era

Vamos falar de misandria?

 O que é misandria no feminismo?   É o ódio generalizado aos homens?   N Ã O.  A misandria geralmente é dicionarizada como sendo o ódio aos homens, sendo análoga a misoginia: ódio às mulheres. Esse registro é equivocado e legitima uma falsa simetria, pois não condiz com a realidade social sexista vivida por homens e mulheres. Não  existe uma opressão sociocultural e histórica institucionalizada que legitima a subordinação do sexo masculino, não existe a dominação-exploração estrutural dos homens pelas mulheres pelo simples fato de eles serem homens, todavia existe o patriarcado: sistema de dominação-exploração das mulheres pelos homens, que subordina o gênero feminino e legitima o ódio institucional contra o sexo feminino e tudo o que a ele é associado, como, por exemplo, a feminilidade. Um exemplo: no Nordeste é um elogio dizer para uma mulher que "ela é mais macho que muito homem", tem até letra de música famosa com essa expressão, contudo um homem ser chamado de

10 comportamentos que tiram o valor de um homem

   Hoje em dia os homens (cis, héteros) andam muito desvalorizados. Isso faz com que muitos sofram amargamente nas suas vidas, sobretudo na vida amorosa.  Outro dia eu estava vendo uns vídeos de forró, funk, sertanejo e fiquei chocada com o comportamento vulgar dos rapazes. Agora deram pra ralar até o chão como um bando de putinhos a busca de serem comidos... e a gente, mulherada, já sabe que se o boy rala o pinto no chão é porque ele é um homem rodado, um mero bilau passado.    Antigamente, no tempo de nossas avós, o homem era valorizado pelo seu pudor virginal, não pela sua aparência. Homens eram um prêmio a ser alcançado pelas mulheres, eles tinham que ser conquistados, ganhados. Hoje em dia, muitos machos estão disponíveis para qualquer mulher num estalar de dedos. Escolhe-se um macho diferente a cada esquina. E a mídia ainda insiste em dizer que homem pode dar pra quantas ele quiser, fazendo os machos assimilarem uma ideia errada e vulgar que os levarão a serem infe

Glossário de termos usados na militância feminista (atual)

Já participou daquele(s) debate(s) feminista(s) e vez ou outra leu/ouviu uma palavra ou expressão e não soube o significado? E cada vez mais, em debates, você passou a ler/ouvir aquela(s) palavra(s)? E o tempo foi passando e mais termos e expressões foram surgindo? E o pior, você pesquisou no Google o significado e não achou? E as palavras, muitas vezes, não existiam nos dicionários formais? Se você respondeu sim, em pelo menos duas perguntas, aconselho conferir o glossário virtual a seguir, no qual pretendo expor e explicar brevemente alguns dos termos e expressões mais usados no meio do ativismo, em especial o virtual. Além dos vários termos e expressões que são usados há décadas nos meios feministas, nós temos também muitos termos e expressões usados atualmente na militância feminista que são fenômenos advindos dos estudos contemporâneos de gênero, outros, ainda, são resultantes da própria necessidade de ressignificação que determinadas palavras sofreram para terem determi

Hétero-cis-normatividade, o que é?

Nossa sociedade é hétero-cis-normativa. Isso significa que a heterossexualidade e cisgeneridade são compulsoriamente impostas. Não, não estou dizendo que vocês, heterossexuais-cis, são héteros-cis por compulsão. Quero dizer que há um sistema social que designa TODO MUNDO como sendo hétero-cis ANTES MESMO do nascimento e posteriormente tudo o que foge disso é considerado anormal, imoral e, em muitas sociedades, ilegal.  Antes mesmo de a pessoa nascer, desde o ultrassom, quando é identificado que ela tem pênis ou vagina, há imediatamente uma marcação sexual e de gênero: se tem vagina, vai ter que ser menina, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menina'' e, por isso, vai ter que gostar de menino; se tem pênis, vai ter que ser um menino, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menino'' e, por isso, vai ter que gostar de menina. E aí, quando a pessoa com vagina ou com pênis