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Mostrando postagens de janeiro, 2016

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Mulheres assexuais e relacionamentos abusivos (?)

"O bom de ser mulher assexual é estar isenta de relacionamento abusivo". "O bom de ser mulher assexual é estar isenta de relacionamento abusivo". É mesmo? Tenho certeza de que a pessoa que diz uma frase dessas desconhece ou ignora a realidade das mulheres assexuais. Ser mulher assexual, numa sociedade que trata o sexo, a sexualidade e os relacionamentos afetivos/amorosos de forma compulsória, normatizada/universalizada e banalizada, é estar a todo momento sendo "empurrada" a se relacionar com alguém, independente das suas vontades e do seu bem-estar. Por mais que lésbicas e gays sejam invisibilizados e deslegitimados (e não me refiro aqui a opressão materializada na agressão física, mas simbólica), pois a sociedade é hétero-normativa, ainda assim, diante de pessoas assexuais, eles têm mais visibilidade, pois, pelo menos, em geral, eles existem. Sim EXISTEM. Pansexuais e bissexuais, apesar de terem menos visibilidade que gays e lésbicas, aind

Relato de uma leitora: ''Não aceitem bebidas de estranhos, não deixem as colegas de sala (bêbadas ou não) sozinhas. Se unam''

Imagem meramente ilustrativa. RELATO DE UMA LEITORA. AVISO DE GATILHO: ESTUPRO.     ''Essa época de resultado de vestibular/início de aulas/trote, sempre me deixa extremamente ansiosa e preocupada. Tudo está relacionado com a primeira vez que entrei em uma universidade, então resolvi compartilhar o que aconteceu comigo e pedir a vocês que tomem MUITO cuidado com esse início de aulas. Quando eu tinha 17 anos fui aprovada na universidade estadual da minha cidade.       A recepção foi muito divertida. As veteranas não participaram ativamente do trote, apenas os veteranos homens. Eles eram um pouco agressivos e nos deixaram desconfortáveis com perguntas relacionadas a sexo e sexualidade, que eram direcionadas apenas para as meninas (éramos quase todas menores de idade). Porém não enxergamos isso como algo problemático. Mesmo assim eu e minhas amigas fizemos questão de participar de todas as festas/ churrascos/ trotes, tudo. Nos sentíamos muito bem, apesar do constante a

Relato de uma leitora: ''Eu era apenas uma criança que carregava nos ombros todo o julgo de uma sociedade''

Relato de uma leitora. Aviso de gatilho: estupro.      "Acabei de ler um caso de traição entre cunhados e notei que em todos os comentários desse caso, todos condenaram a mulher que teve um caso com o marido da irmã dela. Decidi contar pra vocês um pouco da minha história. Eu tinha quatorze anos, aliás tinha 1 mês que eu tinha acabado de fazer 14, eu era virgem e muito ingênua. Minha meia irmã mais velha estava se relacionando com um homem, ela tinha 28 anos na época ele além de se relacionar com minha irmã também estava noivo de uma mulher em outra cidade, minha irmã sabia desse relacionamento dele, mas aceitou ser a "outra".       Um certo dia esse homem que se relacionava com minha irmã me pediu para fazer um favor pra ele que era ir com ele até a casa dele e ficar lá na porta esperando a prima dele chegar pra entregar a ele a chave da casa e enquanto eu esperava lá de fora a prima dele chegar ele iria resolver algumas coisas e depois me buscaria e me levar

Sobre hipergenitalização de pessoas e banalização de sexualidades e identidades de gênero

"Sou lésbica porque gosto de buceta" "Sou gay porque gosto de pinto" "Sou bi porque gosto de buceta e pinto" "Sou assexual porque não gosto, em geral, de buceta nem de pinto" "Sou hétero porque..." Esses discursos são fruto de uma sociedade hipergenitalizadora (que concebe as pessoas, suas identidades, a partir de seus genitais) e cisnormativa (que normatiza e universaliza a vivência de quem é cisgênero, ou seja, de quem se identifica com o gênero que lhe foi designado ao nascer).  São discursos hipergenitalizadores, cisnormativos e transfóbicos, pois desconsideram, apagam, deslegitimam, a orientação sexual das pessoas trans (isto é, das pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascerem, pois pertencem a outro).  Não há nada de revolucionário em associar orientação sexual a atração automática/necessária/inerente a determinado genital. Explico. A orientação sexual de uma pessoa está relacionada

Problemáticas do feminismo radical ou uma visão interseccional da coisa...

"O radfem vai na raiz da opressão, por isso é revolucionário... leia nossa teoria... Nossa luta é pelas mulheres nascidas mulheres... ou seja, mulheres biológicas, socializadas mulheres..." "Nossa preocupação é somente com mulheres com vagina..." "Não tem útero/vagina, não é mulher..."    Esses são alguns dos discursos incoerentes e problemáticos que já vi/ouvi de feministas radicais. São incoerentes porque ferem uma das pautas da própria vertente: a abolição de gênero. E problemáticos porque dizer que a opressão da mulher/cis parte originalmente da socialização por ela ter ''nascido mulher'', ser "mulher biológica", "ter uma vagina", sem implicar na história da leitura anatômica que dividiu os gêneros binários (homem x mulher) e, consequentemente, o papel que devia ser desempenhado por eles socialmente, não é analisar do patriarcado, muito menos permite premissas que o desnaturalize.    Socialização de qualquer pesso

Existe mulher machista? Gay homofóbico? Pessoa negra racista? Pessoa trans transfóbica...?

Existe mulher machista? Gay homofóbico? Lésbica lesbofóbica? Pessoa bissexual bifóbica? Pessoa assexual acefóbica? Pessoa negra racista? Pessoa trans transfóbica? Pessoa gorda gordofóbica? Já começo afirmando um "NÃO" para todas as perguntas. Muita gente irá negar isso ferozmente, irá rejeitar essa ideia, irá dizer que conhece ou que já viu mulher chamando uma outra de puta ou que já teve um amigo negro que ria de piadas racistas, que sua mãe gorda odeia o próprio corpo, que já viu um homossexual não ''afeminado'' com discurso homofóbico direcionado às "bichas pintosas", etc. O que essas pessoas não entendem é que REPRODUZIR um discurso opressor não torna o sujeito enunciador desse discurso automaticamente opressor enquanto indivíduo que ocupa um lugar de poder e privilégios em um sistema de opressão.  Explico. Machismo, homofobia, lesbofobia, bifobia, acefobia, racismo, transfobia, gordofobia... são sistemas de opressão. Não tem como um

Miga, chamar uma mulher de puta (em tom pejorativo) é cuspir no espelho.

Miga, chamar uma mulher de puta (em tom pejorativo) é cuspir no espelho.  Sustentar o significado machista dado a palavra puta para envergonhar, humilhar e culpabilizar a mulher é dá tiro no próprio pé, pois numa sociedade machista, não importa o que a gente faça, nós sempre seremos ~~putas~~.  Somos putas quando transamos e somos putas também quando não transamos. Somos putas quando nos vestimos de forma considerada sensual/vulgar e dizemos não a um homem. Somos putas quando nos vestimos de forma "contida" e dizemos não a um homem. Somos putas quando desrespeitam nosso não e nos abusam. Somos putas e culpadas. Somos putas de batom vermelho. Somos putas de salto. Somos putas bebendo. Somos putas na balada. Somos putas na igreja por ''nos fazermos de santinhas''. Somos putas se transamos quando queremos, se queremos e com quem nós queremos. Somos putas quando não transamos (''as putas puritanas" dizem os machos). Somos putas quando diz

O roludo do rôle

O roludo do rôle chega chegando. "Não sou machista, mas...", ele diz, ele grita, ele berra, ele urra, ele late, ele pia, ele pira e gira... mas é.  E como o é.  Com o roludo do rôle "Nem todo homem...", mas ele bem ignora ou finge não saber que todo homem, cisgênero, se beneficia de uma estrutura social que legitima hierarquias entre homens e mulheres. Mas esse tipo de generalização não conta. Também não conta as vezes por dia em que mulheres são assassinadas por homens, sobretudo, cis, por causa do machismo. E quando não são ("só") assassinadas, são estupradas. Mas "Nem todo homem...", afinal o roludo do rôle nunca matou nem estuprou uma mulher. Ele só agrediu (agride?) fisicamente, emocionalmente e psicologicamente algumas mulheres de seu convívio. Ele só as silenciou, as censurou, as reprimiu, as explorou, as subestimou, as ridicularizou. Ele só trata sua mãe como sua empregada doméstica, porém sem salário/remuneraç