Relato de uma leitora: ''Não aceitem bebidas de estranhos, não deixem as colegas de sala (bêbadas ou não) sozinhas. Se unam''
Imagem meramente ilustrativa. |
RELATO DE UMA LEITORA.
AVISO DE GATILHO: ESTUPRO.
''Essa época de resultado de vestibular/início
de aulas/trote, sempre me deixa extremamente ansiosa e preocupada. Tudo está
relacionado com a primeira vez que entrei em uma universidade, então resolvi
compartilhar o que aconteceu comigo e pedir a vocês que tomem MUITO cuidado com
esse início de aulas. Quando eu tinha 17 anos fui aprovada na universidade
estadual da minha cidade.
A recepção foi muito divertida. As veteranas
não participaram ativamente do trote, apenas os veteranos homens. Eles eram um
pouco agressivos e nos deixaram desconfortáveis com perguntas relacionadas a
sexo e sexualidade, que eram direcionadas apenas para as meninas (éramos quase
todas menores de idade). Porém não enxergamos isso como algo problemático.
Mesmo assim eu e minhas amigas fizemos questão de participar de todas as
festas/ churrascos/ trotes, tudo. Nos sentíamos muito bem, apesar do constante
assédio, e o ambiente nos atraía bastante. Como muitas outras meninas, nós
bebemos algumas vezes, ficamos com alguns caras e nos divertimos. Até que um
dia, em uma das festas, colocaram alguma coisa na minha bebida. Eu não sei
exatamente o que foi e nem quem foi, mas tenho certeza que isso aconteceu porque
havia ingerido uma quantidade muito pequena de álcool no dia.
Quando a festa acabou (durou o dia todo), eu
estava completamente apagada e jogada em um dos quartos de uma República. Eu
não lembro como fui parar lá, mas algumas amigas me levaram para aquele quarto
quando perceberam que eu não estava bem. Depois de muitas horas inconsciente eu
comecei a recuperar parte dos sentidos e progressivamente me dei conta do que
estava acontecendo. Tinha um cara no quarto e ele estava me despindo. Eu não
conseguia me mexer e não fui capaz de ver/sentir tudo o que aconteceu, eu me
lembro apenas de ficar completamente desesperada e de não ter forças para me
mover ou falar. Ele me estuprou bem ali, no chão do quarto. Duas vezes. Quando
eu consegui ficar em pé já era madrugada e boa parte das pessoas tinham ido
embora, pedi para chamarem um táxi e fui para casa.
Eu era muito nova, virgem, de uma família
conservadora e sexista, demorei até para aceitar que eu havia sido estuprada. É
difícil dizer o quanto isso me afetou, mas foi muito. Muito mesmo. Desencadeou
uma depressão monstruosa. Me envolvi em muitas roubadas, relacionamentos
abusivos, engravidei, desisti da faculdade, enfim... Esse ano eu vou começar
outro curso, em outra cidade. Tenho certeza que não vou passar por esse tipo de
trote pelo perfil dos alunos do meu curso (90% mulher). Mas fico nervosa só de pensar
em todas as meninas que vão dar de cara com um ambiente extremamente nocivo e
misógino. Então, manas, tomem muito cuidado e problematizem todas as
“brincadeiras” que rolarem. Não aceitem bebidas de estranhos, não deixem as
colegas de sala (bêbadas ou não) sozinhas. Se unam.''.
Anônima.
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