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LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Glossário de termos usados na militância feminista (atual)


Já participou daquele(s) debate(s) feminista(s) e vez ou outra leu/ouviu uma palavra ou expressão e não soube o significado? E cada vez mais, em debates, você passou a ler/ouvir aquela(s) palavra(s)? E o tempo foi passando e mais termos e expressões foram surgindo? E o pior, você pesquisou no Google o significado e não achou? E as palavras, muitas vezes, não existiam nos dicionários formais? Se você respondeu sim, em pelo menos duas perguntas, aconselho conferir o glossário virtual a seguir, no qual pretendo expor e explicar brevemente alguns dos termos e expressões mais usados no meio do ativismo, em especial o virtual.

Além dos vários termos e expressões que são usados há décadas nos meios feministas, nós temos também muitos termos e expressões usados atualmente na militância feminista que são fenômenos advindos dos estudos contemporâneos de gênero, outros, ainda, são resultantes da própria necessidade de ressignificação que determinadas palavras sofreram para terem determinados efeitos no discurso. A variedade se dá porque os termos e expressões que usamos no ativismo atual não decorrem só dos meios acadêmicos, mas também vindos de contextos não-acadêmicos, tais como páginas e blogs na internet.
Diante disso, muitas palavras ou expressões foram sendo criadas informalmente, isto é, nos próprios meios de interação feminista, não havendo a necessidade acadêmica ou formal, linguisticamente falando, de legitimação da existência dessas palavras ou expressões, as quais muitas delas fogem da ortografia oficial do português, ou, ainda, são palavras estrangeiras que não possuem tradução direta para o português brasileiro, o que dificulta o entendimento delas não só para feministas iniciantes na militância (público-alvo desse post), mas também para muitas que já têm uma história de militância, mas que por conta de contextos específicos, ou de oportunidades, ainda não conhecem tais palavras ou expressões.
Pensando nisso, resolvi fazer um glossário de termos sobre as palavras e expressões que as/es/os seguidoras/es da página Diários de uma feminista mais demostraram ter até a escrita deste post. 
Vamos conferir?

A
Antifeminista: pessoa que faz campanha contra o feminismo, logo contra os direitos das mulheres.
Academicismo: apesar de geralmente esse termo ser associado ao comportamento de quem integra (ou parece integrar) a academia, na militância é também usado para apontar atitudes problemáticas de pessoas que, em debates ou discussões, usam de seus “saberes acadêmicos” (desnecessários na situação em questão) para silenciar outras pessoas ou deslegitimar suas vivências.
ALGBTQPI: assexuais, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/transgênero, queers, pansexuais e intersexuais.
AFAB: assigned female at birth. Em português: (pessoa) designada como mulher no nascimento. Pessoa AFAB é, dessa forma, aquela que quando nasceu foi designada como sendo uma mulher, ou seja, que foi dita como pertencente ao gênero feminino. A sigla AMAN (assinalada mulher ao nascer) surgiu como uma adaptação de AFAB, porém ainda é pouco conhecida e usada.
AMAB: assigned male at birth. Em português: (pessoa) designada como homem no nascimento. Pessoa AMAB é, dessa forma, aquela que quando nasceu foi designada como sendo um homem, ou seja, que foi dita como pertencente ao gênero masculino. A sigla AHAN (assinalada homem ao nascer) surgiu como uma adaptação de AMAB, porém ainda é pouco conhecida e usada.
Anarcomacho: homem/cis anarquista que é machista.
Assexualidade: orientação sexual, na qual a pessoa assexual pode não sentir atração sexual de jeito nenhum, pode sentir atração sexual apenas se tiver vinculo afetivo/emocional ou ainda pode sentir atração sexual de maneira rara ou circunstancial. Vários são os espectros dessa sexualidade, entre os mais comuns encontram-se as pessoas denominadas assexuais, demisexuais, gray-sexuais e assexuais fluidos. Assexual: pessoa que geralmente não sente atração sexual por nenhum gênero. Demisexual: pessoa que só consegue sentir atração sexual depois de formar um vínculo emocional (não necessariamente de natureza romântica) por uma pessoa, seja do mesmo gênero ou do gênero oposto. Gray-Assexual (gray-a) ou gray-sexual: pessoa que se identifica na área entre a assexualidade e a sexualidade. Seja porque sente atração sexual de forma rara, apenas em circunstâncias específicas seja porque só sente atração sexual com baixa intensidade, chegando a ser muitas vezes ignorável. Assexual fluido: a pessoa que tem essa ramificação da assexualidade pode envolver mais de um dos espectros apresentados anteriormente, pois sua experiência com a atração sexual é fluida e circunstancial.
Acefobia: opressão e preconceito contra assexuais.
Androcentrismo: 1. Visão de mundo ou comportamento social no qual se valoriza o ponto de vista masculino. 2. Visão de mundo pautada pelo gosto masculino. 3. Universalização da perspectiva vivencial masculina, da experiência de mundo masculina.
Atração genital: diz respeito a atração que uma pessoa tem por determinado genital. Não confundir com orientação sexual.

B
Bissexualidade: orientação/atração sexual de quem é bissexual. Bissexual: pessoa que se atrai sexualmente por dois gêneros.
Bifobia: opressão e preconceito contra bissexuais.
Bói: escrita propositalmente errada da palavra boy.
Binarismo (de gênero): comportamento social normativo de só se visibilizar e legitimar os gêneros binários: só homem x só mulher.
Broxista: junção de broxa com machista.
Bropriating: designa o comportamento dos homens que roubam as ideias das mulheres, as usam e não dão os créditos. Não possui (ainda) uma tradução/adaptação termo a termo adequada ao significado original.

C
Capacitismo: opressão e preconceito contra pessoas com deficiência.
Cisgênero ou cis: o contrário de pessoa trans, isto é, a pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer.
Cisnormatividade, cisnormativismo ou cisnorma: comportamento social compulsório que normatiza e universaliza a perspectiva cisgênera de gênero, isto é, que valoriza e válida somente a condição de gênero de quem é cis, o que resulta na transfobia e no cissexismo.
Cissexismo: comportamento social que concede determinados privilégios para quem é cis. Por exemplo, pessoas cis não precisam de aval médico ou legal para terem seu gênero reconhecido/legitimado.
Cisgeneridade: perspectiva de gênero de quem é cis.
Cirurgia de redesignação genital ou transgenitalização: 1. É a cirurgia que algumas pessoas trans fazem em seus genitais, para se sentirem melhor com si mesmas. Não é adequado usar o termo “mudança de sexo”, pois isso não existe. Não é a cirurgia que valida o gênero das pessoas trans. Existem pessoas trans que não pretendem fazer cirurgia e nem por isso deixam de ser quem são. 2. Procedimento cirúrgico para que transexuais passem a viver em harmonia com seu genital, que antes lhes trazia extremo desconforto.
Colorismo ou pigmentocracia: recorrente em país que sofreram colonização europeia e em países pós-escravocratas, o colorismo consiste na discriminação orientada na cor da pele da pessoa, a qual quanto mais tiver a pele pigmentada/escura, mais exclusão e discriminação ela irá sofrer.
Classismo: refere-se ao recorte de classes na luta. Uma pessoa classista é uma pessoa que representa sua classe e/ou que defende os direitos dela.

D
Direitomacho: homem/cis machista de direita.

E
Elitismo: comportamento social de se hipervalorizar a elite e as coisas/pessoas/comportamentos/manifestações culturais a ela associadas.
Especismo: ideologia que legitima o comportamento humano de subordinar e explorar os animais (não-humanos), pois estes são concebidos como inferiores aos seres humanos.
Expressão de gênero: a maneira como uma pessoa expressa seu gênero: de forma feminina, masculina, andrógena. Nem sempre a expressão de gênero de uma pessoa equivale a identidade de gênero dela, pois não são, por exemplo, roupas (as quais são consideradas de homem ou de mulher) que definem gênero.
Esquerdomacho: homem/cis de esquerda que diz não ser machista, como se ser da esquerda o isentasse de machismo, diz não ser machista, mas é.

F
Falocentrismo: 1. Visão de mundo que cultua o falo (pênis), logo um dos meios de sustentação dos privilégios e da posição de poder dos homens/cis no sistema de dominação-exploração de gênero. 2. Postura social que considera o homem/cis um ser superior por este ter um falo. 3. Usado para manter a crença machista da superioridade masculina.
Falsa simetria: comparar situações completamente assimétricas, desproporcionais. Por exemplo, o racismo sofrido por uma pessoa negra e o bullying que uma pessoa muito branca pode sofrer em algum momento de sua vida.
Feminismo: movimento social, político e filosófico, o qual, enquanto movimento articulado, teve sua origem no século XIX, com as sufragistas, porém só se estruturou no início do século XX. Originalmente organizado e liderado por mulheres feministas, o feminismo tem como base central a luta contra a opressão de gênero, isto é, contra o patriarcado. Apesar de ser uma palavra geralmente usada no singular, o feminismo deve ser entendido na sua pluralidade, seja de vertentes, seja de pautas ou bandeiras levantadas. Atualmente, com o desenvolvimento dos estudos de gênero, não só as mulheres têm participado da frente feminista, mas também muitos homens transgêneros/transexuais. Homens/cisgêneros que apoiam a luta, como não são protagonistas, são chamados de pró-feministas, ou seja, são aliados da causa.
Femismo: palavra usada para deslegitimar feministas que de alguma forma estão incomodando a ordem patriarcal. Femismo muitas vezes é usado como o contrário de machismo, isto é, como a prática social de opressão de gênero contra os homens, logo é falsa simetria, pois não existe uma estrutura social de dominação feminina, a qual conceda privilégios de gênero às mulheres e oprima os homens só por serem homens. Femismo, assim como misandria, não existem na prática social.
Feminista: pessoa que protagoniza o movimento feminista, isto é, quem sofre com o sistema patriarcal e luta contra ele.
Feministo: homem/cis que se diz feminista, que deseja protagonizar o movimento feminista, liderar pautas (o que invisibiliza as mulheres militantes). Homem/cis que se diz pró-feminista, mas que silencia mulheres feministas.
Feminazi: termo pejorativo usado por pessoas ignorantes que querem difamar as feministas, associando-as com nazistas.
Feminicídio: designa a causa da morte de mulheres que são mortas/assassinadas só por serem mulheres.

G
Gaslighting ou gas-lighting: não possui (ainda) uma tradução/adaptação termo a termo adequada ao significado original. Gaslighting é uma forma de abuso psicológico (ou violência emocional) no qual o abusador omite, distorce ou inventa informações ou dados para fazer a vítima (do abuso psicológico) duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.
Gênero: 1. Categoria identificacional, diz respeito, por exemplo, se você é homem ou mulher. 2. Construção sócio-histórica e cultural que associa gênero designado (ao nascer) a papéis que as pessoas deverão desempenhar em sociedade. 3. Performance, algo que as pessoas desempenham por meio de atos repetidos, socialmente construídos e condicionados.
Gordofobia: opressão e preconceito contra pessoas gordas.

H
Hipergenitalização: ato de reduzir, limitar ou subordinar as pessoas aos seus genitais.
Homem cisgênero ou cis: 1. Pessoa que quando nasceu foi designada como sendo homem (atribuição cisnormativa, por ter um pênis associou-se que seria um homem) e que se identifica com esse gênero, logo tem identidade de gênero masculina. Pessoa que pertence ao gênero que lhe foi atribuído ao nascer.
Homem transgênero/transexual ou trans: pessoa que quando nasceu foi designada como sendo mulher (por ter uma vagina), mas que não se identifica com essa atribuição (cisnormativa), pois sua identidade de gênero é a masculina. Muitas pessoas não-binárias transmasculinas (AFAB) se identificam como homens por questões de visibilidade.
Homossexualidade: orientação/atração sexual voltada às pessoas do mesmo gênero. Homossexual ou gay: homem que se atrai sexualmente pela pessoa do mesmo gênero que ele. Lésbica: mulher que se atrai sexualmente pela pessoa do mesmo gênero que ela.
Homofobia: opressão e preconceito contra homossexuais/gays.
Humanismo: 1. Filosofia moral que coloca os seres humanos como principais, numa escala de importância. 2. Corrente filosófica e acadêmica que valoriza as capacidades intelectuais do ser humano. 3. Filosofia moral criada como uma forma de substituir as religiões que idolatravam um ser superior.

I
Identidade de gênero: expressão ligada a identificação que uma pessoa (cis ou trans) tem com determinado gênero. Diz respeito ao gênero real de qualquer pessoa, independente de sua expressão de gênero.
Iuzomi, mascu, bói, ome, omi e/ou homi: termos escritos propositalmente errados de acordo com a ortografia oficial do português para zoar o homem/cis declaradamente machista, misógino, LGBTfóbico ou com comportamentos problemáticos. É também uma forma de não incluir em determinadas críticas, em posts informais na internet, os homens trans e os homens cis que são machistas em desconstrução ou pró-feministas.
Iuzomismo: termo criado para ironizar comportamentos machistas de homens/cis inconformados com o feminismo ou, ainda, para zoar os chamados “mimimi” dos homens/cis em pages feministas.
Iuzbranquismo: expressão alternativa de “white tears”, ou seja, tem  sentido semelhante, pois é usada para apontar comportamentos racistas vindos de pessoas brancas.

L
Lesbofobia: opressão e preconceito contra lésbicas.
LGBT: lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/transgêneros.
LGBT+: lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/transgênero entre outros.

M
Machismo: pilar do Patriarcado, é sustentado pela ideia de que o homem/cis é um "ser superior". É através do machismo que o homem/cis ocupa o lugar de poder na opressão de gênero e por isso possui privilégios.
Mansplaining: designa o comportamento do homem que dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, como se ela não fosse capaz de compreender porque é uma mulher. Apesar de não possuir uma adaptação/tradução direta, as expressões “homem-explicanista”, “homiexplicar” ou “homem-explicador” são usadas, muitas vezes, em português, para definir esse comportamento masculino.
Manterrupting: não possui (ainda) uma tradução/adaptação termo a termo adequada ao significado original. É usado para designar a atitude dos homens que interrompem constantemente a fala das mulheres, não as deixando concluir suas frases, pois acham que o que eles têm a dizer é mais relevante (androcentrismo).
Male tears ou male cis tears: choro (simbólico) masculino. O mesmo que iuzomismo.
Misandria: a misandria, levando-se em consideração a realidade fora de algumas das enciclopédias e dicionários em que essa palavra consta, pode ser considerada como sendo uma crítica sarcástica contra o sistema patriarcal (ou a comportamentos masculinos a ele associados) que privilegia homens/cis só por serem homens/cis.
Misoginia: outro pilar do Patriarcado. Está relacionada  a discriminação e violência contra as mulheres (cis ou trans), porém pessoas que não são mulheres, mas que foram designadas como mulheres ao nascerem (e que, pela leitura social cisnormativa, são lidas como mulheres) também podem sofrer com a misoginia.
Migue: forma neutra ou não binária para a palavra miga (para quem é mulher) e migo (para quem é homem). Cada vez mais a vogal “e” vem substituindo a linguagem neutra usada no meio virtual com o “@” ou “x”, pois ambos não são pronunciáveis enquanto artigos, logo dificultam a compreensão de leitores de tela para pessoas com deficiência visual.
Mulher cisgênero ou cis: 1. Pessoa que quando nasceu foi designada como sendo mulher (atribuição cisnormativa, por ter uma vagina associou-se que seria uma mulher) e que se identifica com esse gênero, logo tem identidade de gênero feminina. Pessoa que pertence ao gênero que lhe foi atribuído ao nascer.
Mulher transgênero/transexual ou trans: 1. Pessoa que quando nasceu foi designada como sendo homem (por ter um pênis), mas que não se identifica com essa atribuição (cisnormativa), pois sua identidade de gênero é a feminina, logo é uma mulher que quando nasceu não teve o verdadeiro gênero designado. 2. Mulher que quando nasceu foi designada como sendo homem, ou seja, mulher que não teve seu verdadeiro gênero designado ao nascer, a qual geralmente busca fazer cirurgia de redesignação genital, por sentir desconforto com sua genital, logo é uma necessidade, ela precisa disso, portanto não é uma “escolha estética”. Existem também mulheres trans que não têm essa necessidade, por não terem “disforia genital”, sendo que isso (a não necessidade da cirurgia) não deslegitima o gênero dessas mulheres. O importante é não ver a cirurgia de redesignação genital como uma escolha banal na vida das mulheres trans operadas ou das que precisam fazer a cirurgia e lutam por isso, pois as mulheres que buscam fazer a redesignação genital, fazem isso por necessidade, para poderem viver em harmonia com seu genital.

O
Opressão: estrutura social desigual, hierárquica ou assimétrica que beneficia determinado grupo (opressor) em detrimento da discriminação-dominação-exploração de outro grupo (oprimido).
Orientação ou condição sexual: está relacionada a atração sexual que uma pessoa tem (ou não) com pessoa(s) de determinado gênero.

P
Pansexualidade: orientação/atração sexual de quem é pansexual. Pansexual: pessoa que se atrai sexualmente por uma pessoa independente do gênero dela.
Panfobia: opressão e preconceito contra pansexuais.
Patriarcado: opressão ou sistema de dominação-exploração das mulheres, cisgêneros ou trangêneros, dos homens trans e de pessoas não binárias, pelos homens/cisgêneros. Apesar de o foco central de opressão patriarcal se voltar contra as mulheres, os homens trans, sobretudo os que não transacionaram ou que não são lidos como homens (por causa da cis-normatividade) e pessoas não binárias também sofrem com esse sistema de opressão. São os principais pilares do patriarcado: o machismo, a misoginia, o androcentrismo e o falocentrismo.
Pessoa não-binária ou NB: pessoa (trans) que não se identifica (ou não se identifica somente) com os gêneros binários: homem x mulher.
Propriedade de fala: refere-se à propriedade ou prioridade de fala que pessoas que sofrem ou vivenciam determinada opressão tem. É usada para dar visibilidade a voz das pessoas oprimidas.

Q
Queer: 1. Teoria pós-moderna de gênero/identidade e sexualidade que desconstrói paradigmas e normatizações heterocisnormativas. Muitas vezes essa palavra também é associada a manifestações de gênero e/ou sexualidade que fogem do padrão social estabelecido que é o hétero/cisgênero.

R
Racismo: 1. Sistema de dominação-exploração racial/étnico legitimado por ideologias, crenças ou teorias que estabelecem hierarquias entre as raças/etnias. 2. Sistema de dominação-exploração da população negra (e não branca/caucasiana) pela população branca/caucasiana. 3. Estrutura social de opressão que legitima a discriminação, preconceito e mesmo o genocídio de populações étnicas consideradas inferiores.
Reveng porn: em português,pornografia de vingança”, é o ato de o homem divulgar gravações/fotos/vídeos íntimos de sua ex-companheira ou dos dois em momentos íntimos, e isto para humilhá-la, para expor a intimidade dela, como uma forma de vingança pelo fim do relacionamento, pois ele sabe que ela sofrerá misoginia e/ou slut-shaming.

S
Sexismo: comportamento e/ou ideias que privilegiam pessoa de determinado gênero em detrimento da pessoa de outro. Como nossa sociedade é de base Patriarcal, em geral, o sexismo é machista: privilegia homens/cis.
Sororidade: 1. Irmandade ou solidariedade feminina. 2. União entre as mulheres (assim como fraternidade é usada como união entre os homens). 3. Tática de militância feminista usada para unir as mulheres contra o patriarcado, desconstruindo a crença machista de que elas devem ser rivais.
Sufragistas (mulheres sufragistas): militantes pelo sufrágio feminino, o qual consistiu em movimentos articulados e liderados por mulheres durante décadas (especialmente no fim do século XIX e início do século XX), em diversos países do mundo, em especial no Reino Unido e nos Estados Unidos (países-base) pela conquista do direito a cidadania política feminina, tendo como foco principal o sufrágio, isto é, o direito das mulheres poderem votar e serem votadas. O sufrágio feminino não deve ser confundido com o sufrágio universal, pois são lutas distintas, a primeira foi pela conquista do poder político para a mulher, justamente porque o sufrágio universal, liderado por homens, não abrangia o direito da mulher de poder votar e ser votada, mas sim a eliminação do voto qualificado por renda, o que foi uma conquista dos homens da classe trabalhadora. 
Slut shaming ou slut-shaming: Comportamento social machista e misógino de tentar fazer uma mulher sentir vergonha de sua conduta/vida sexual. Por exemplo, as palavras puta e vadia são geralmente usadas para tentar envergonhar, inferiorizar, humilhar, limitar e culpabilizar a mulher de vida sexual ativa, que usa de sua liberdade sexual ou, ainda, que expressa sua sexualidade de forma semelhante (ou melhor) que a dos homens.

T
Transgênero ou trans: o contrário de pessoa cis, isto é, pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Por exemplo, mulheres e homens transexuais.
Transgeneridade: perspectiva de gênero de quem é trans.
Travestis: Apesar de as travestis, geralmente, se encaixarem na categoria mulher trans, nem todas elas se consideram mulheres (binárias), algumas são não-binárias (travestis não-binárias), todavia a expressão de gênero delas continua sendo feminina (ou, as vezes, andrógena, mas também com traços femininos acentuados) e a identidade de gênero transfeminina, logo devem ser tratadas no feminino.
Transfobia: opressão (de gênero) contra pessoas trans só por serem trans, consiste, por exemplo, em invalidar, desqualificar, desrespeitar o gênero de uma pessoa trans.
Trans-ally: trans-aliada/o, isto é, pessoa cis que é aliada as causas das pessoas trans, ou seja, que não são trans-excludentes.
TERF: 1. Trans-exclusionary radical feminism. Em português: feminista/feminismo radical trans-excludente, ou seja, feministas radicais que excluem pessoas trans do movimento. 2. Feministas transfóbicas.
Trigger Warning ou TW: em português, “aviso de gatilho”, é um alerta ou aviso que se coloca no começo de um texto para que as pessoas saibam da existência de um conteúdo que possivelmente possa trazer sensações ou lembranças ruins, desagraveis e/ou dolorosas para quem pretende o ler. Exemplo: TW: estupro, indica que o texto irá abordar o estupro, mencionar abuso sexual, relatar cenas de estupro etc.
Token: em português, “prova”, é o comportamento problemático de se apropriar de pessoas ou grupos oprimidos para se justificar um ponto de vista ou para se isentar de ser preconceituoso ou opressor. Exemplo: "Não sou racista, tenho até amigos negros".

W
White Tears: em português, “choro branco”, é uma expressão usada para apontar comportamentos racistas vindos de pessoas brancas. Por exemplo, quando uma pessoa branca tenta silenciar uma pessoa negra, quando ela deslegitima a vivência da pessoa negra ou faz falsa simetria (comparações assimétricas) ocorre o que é chamado de “white tears”.

 NOTAS
1. Eventualmente, poderão ser acrescentados novos termos ou a significação dos inseridos no post podem ser modificados/ajustados.
2. Deixo aqui meu sincero agradecimento as pessoas trans que me ajudaram na escrita/síntese dos termos ou expressões referentes a população trans. Muito obrigada pela revisão.

Lizandra Souza.

Comentários

  1. interessante a linguística do movimento feminista...Sou professora e vou trabalhar a temática da Mulher e esse glossário ajudou-me e muito...

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  2. muito obrigada,esse dicionário me ajudou muito a fazer um trabalho escolar.

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  3. Lizandra, amei esse glossário, sério! Uma vez vi no face mais acabei perdendo o site depois, faz tempinho que venho procurando ele de novo pra eu poder ler com calma, e confesso que tinha muitas dúvidas nas 'novas palavras' que nem significado sabia. Então, obrigada por eles.

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  4. LINDO DICIONÁRIO ! Obrigaaaaaaada! Vai me ajudar muito com as minhas classes de ensino médio!

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  5. Manas o post de você contribuiu muito pra um artigo academico meu! Obrigada <3

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Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

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