A maternidade é socialmente compulsória e
romantizada enquanto a paternidade é opcional. Se você é mulher e diz que
não quer casar nem ter filhos, as pessoas lhe olham como se você fosse uma
alien ou, ainda, debocham da sua decisão dizendo que você COM CERTEZA vai mudar
de ideia. Se você é um macho e diz o mesmo é TOTALMENTE COMPREENSÍVEL QUE VOCÊ
QUEIRA ''APROVEITAR A VIDA'', NORMAL PORQUE VOCÊ É HOMEM E HOMEM PODE NÉ?
É absurdo como o discurso da mudança de
ideia e de que você é uma pessoa muito jovem muda quando muda o gênero do
sujeito que não deseja ter filhos. É absurdo e sexista machista. Por que
somente aos homens (cisgêneros) é dado o direito de recusarem a paternidade?
Biologicamente eles são pais, afinal as mulheres (cisgêneros) não engravidam do
dedo, contudo porque esse fator biológico não é usado para determinarem seus
papéis sociais? Porque não há uma regulação da vida masculina como há da
feminina. Porque homens podem escolher se dedicarem aos estudos, podem almejar
uma carreira de sucesso e optarem se relacionar com várias mulheres sem a
necessidade de uma relação fixa, estável e com frutos biológicos (filhos) para
a realização deles como homens, para sua felicidade plena. Quem já viu alguém
chegar para um homem que disse que não quer ter filhos e dizer "mas você
só será feliz plenamente e um homem completo e realizado quando tiver filhos...
ter filhos é o sonho e destino de todo homem''?
Tenho, no momento da escrita desse texto,
22 anos, sou graduada, iniciei minha pós-graduação, estou a espera da abdução,
não tenho tempo nem vontade de ter filhos, se hoje eu decidisse fazer uma
laqueadura, eu NÃO poderia, porque para o Estado que regula meu corpo e minha
vida eu sou muito nova, eu precisaria ter mais de 25 anos, ser acompanhada
psicologicamente durante meses com alguém destinado a me fazer mudar de ideia e
ainda precisaria de um acordo com Drácula, meu companheiro trevoso, para o
Estado decidir liberar minha cirurgia. Agora, se eu, hoje, estivesse grávida,
eu não seria nova demais nem imatura o suficiente para ser mãe, o mesmo Estado
me obrigaria a ter um filho indesejado. O mesmo Estado me forçaria a ser mãe
com 22 anos. Minha sorte, nessa situação hipotética, é que meu macho e eu somos
darksexuais, nossa relação íntima é com as trevas e a solidão.
Quando eu digo que EU não quero ter filhos
não significa que eu não goste de crianças.
Quando eu digo que EU não quero ter filhos
não significa que eu estou fazendo apologia ou campanha para impedir que outras
pessoas tenham filhos.
Quando eu digo que EU não quero ter filhos
não significa que eu tenha ódio por crianças.
Quando eu digo que EU não quero ter filhos
significa que EU, simplesmente, não quero ter filhos, que eu não tenho vontade
ou necessidade de ser mãe.
Ser mulher é diferente de ser mãe. Ser mãe
deve ser uma escolha consciente e planejada e NÃO uma obrigação para
cumprimento de uma convenção social ou de uma fatalidade biológica. A
sociedade ou o Estado não estão preocupados com a felicidade plena da mulher ou
com uma possível futura solidão quando interferem na escolha da mulher em não
ter filhos. As pessoas se assustam com uma escolha contrária as
convenções. Principalmente quando essa escolha vem de uma mulher. É isso o que
a sociedade teme: a liberdade de escolha feminina, sobretudo quando essa
escolha fere o status quo ao quebrar padrões de gênero.
Lizandra Souza.
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Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!