Dizem-nos
Putas!
Vadias!
Piranhas!
Promíscuas!
Rodadas!
Vulgares!
Quengas!
Piriguetes!
Vagabas!
Para nos envergonhar.
Para nos inferiorizar.
Para nos culpabilizar.
Para nos restringir.
Para nos limitar.
Dizem-nos
Putas!
Vadias!
Piranhas!
Promíscuas!
Rodadas!
Vulgares!
Quengas!
Piriguetes!
Vagabas!
Porque numa sociedade machista
é inadmissível ver mulher
transando
quando ela quer,
porque ela quer,
com quem ela quer.
Com quantos ela quer, por que não?
Dizem-nos
Putas!
Vadias!
Piranhas!
Promíscuas!
Rodadas!
Vulgares!
Quengas!
Piriguetes!
Vagabas!
Porque fazem de erro,
pecado, dor, abominação,
termos vida sexual igual
ou melhor que a dos homens...
Ah, os homens,
seres superiores,
parrudos,
bafejados,
eloquentes,
sapientes,
loquazes,
e majestosos.
Só que não.
Não mesmo.
E dizem-nos
Putas!
Vadias!
Piranhas!
Promíscuas!
Rodadas!
Vulgares!
Quengas!
Piriguetes!
Vagabas!
Por exercemos nossa sexualidade
para nosso prazer,
para nos conhecer,
para nos satisfazer
em detrimento da vontade dos homens.
Ah, os homens fiscais de foda,
praticantes de slut-shaming,
já disse o que acho deles?
Lizandra Souza.
Quem tem medo de puta? O
patriarcado tem medo de puta. Da puta assumida que é puta. Da puta que
tem consciência do que é ser puta. Da puta que dá porque quer. Dá
puta que come quem quer. Já disse que nós é que comemos?
Homens, sobretudo os héteros/cis, têm medo de puta. Já pensou como deve ser
frustante ter o aval da sociedade para expressar sua sexualidade de modo que a
expressão da mesma venha a dominar a do gênero oposto e em um belo dia
encontrar uma puta por aí? Puta que veio mostrar que manda no corpo. Puta que
veio mostrar que independe do outro. Do prazer do outro. Do aval do outro. Puta
que expressa sua sexualidade de modo a se libertar do outro.
Eles têm medo de puta porque puta que é puta caga e anda para slut-shaming
deles. Puta que é puta destrói slut-shaming quando levanta a cabeça, põe o
batom vermelho, ou fica sem batom mesmo, usa a roupa que quer, joga o cabelo e
diz "Meu corpo, minhas regras".
Muitas mulheres também têm medo das putas. De serem putas. Mas isso não é culpa
delas. Desde cedo a sociedade usa de mecanismos misóginos para envergonhar
e culpabilizar o comportamento sexual feminino. As mulheres internalizam que é
feio, é errado, é sujo, ter liberdade ou expressão sexual. Esse Slut-shaming
nos acompanha ao longo de nossas vidas para ir restringindo nossa sexualidade,
de modo que a expressão dela só é um pouco tolerável quando ela está a serviço
de agradar os machos. Ser mulher no patriarcado é ter a vida, o corpo, as
roupas, a cor do batom, o sapato, a transa, o pensamento... policiado.
Nosso corpo é objetificado e hiperssexualizado. Nosso corpo é visto como
mercadoria-masculina porque a sociedade é patriarcal e patrimonial. Logo, usar
de nosso corpo para nos agradar é contra-hegemonizar, é subverter a ordem
patriarcal na medida em que não estamos a serviço de agradar macho.
O corpo e a sexualidade da mulher se tornam ofensivos quando não estão a
serviço do bel prazer masculino. Imagina as seguintes cenas: uma mulher
amamentando em público, uma mulher usando roupa curta, uma mulher fazendo
topless, uma mulher seminua em um comercial de cerveja sendo objetificada para
os homens/cis. Somente uma das cenas não é condenada pela massa social: a da
mulher objetificada.
Misoginia, machismo e heteronormatividade definem essa prática que condiciona
as mulheres a expressarem sua sexualidade de modo a agradar os homens/cis. A
sexualidade masculina (dos homens/cis héteros) é definida e expressa a partir
da sua dominação para com a sexualidade feminina. Por isso, mulheres, eles nos
limitam. Por isso nos julgam. Por isso nos condenam.
Nos condenam por queremos ser livres. Nos condenam porque nossa
liberdade legitima os direitos humanos universais. Por que
nossa liberdade deslegitima a ordem patriarcal.
Mas o slut-shaming não se limita a ferir a dignidade da mulher que tem
vida sexual ativa. Sabe aquela frase "Uma mulher que transa no primeiro
encontro é uma puta, uma puta de uma mulher bem decidida"? Ela é
problemática. Ela passa a ideia de que ser decidida, ou seja, de que tomar uma
decisão sobre sexo, parte da escolha da mulher transar. Deslegitimando a ideia
de que dizer um não também é escolha e deve ser respeita. Não transar porque
não quer não faz da mulher uma santa ou uma mulher "não decidida".
Somos putas também quando escolhemos não transar.
Nosso não também é
ofensivo porque nós escolhermos não querer transar também é ofensivo.
Imagine aquele cara legal que
levou um não de uma mina.
Aquele cara é
homem/cis. ''Como aquela puta pode se negar a ficar com um cara tão legal?
É uma puta mesmo. Deve dá para todos, mas agora fica se fazendo de
difícil". As mulheres são dividas entre fáceis e difíceis
porque custa para o macho bonzão entender que existe mulher com ou sem
interesse nele. Que existe mulher que nem de homem gosta. É tão convencido que
acha que quando há uma mulher não interessada nele é porque ela é uma puta.
Caso não seja puta, ela vai ser a partir do momento em que ele sentir o ego e a
masculinidade ferida e começar a fazer boatos do que ele (não) fez com
ela.
A mulher casada também tem seu não deslegitimado. Mesmo nos países em que o
estupro conjugal é crime, a sociedade legitima a vontade do homem prevalecer
sobre o não da mulher. Afinal, aquela puta é esposa dele, tem obrigações
conjugais, não pode negar para o macho... ou ele vai procurar uma puta fora de
casa.
As mulheres lésbicas, as assexuais (e as não-heterossexuais, em geral) também
são putas. Dizem-nos putas que precisam de homens/cis, ou melhor, da piroca
sagrada deles, para sermos ''mulheres de verdade'' porque, pasmem, somos de
mentira até transar com um Piroconildo da vida.
Somos putas quando transamos e somos putas também quando não transamos. Somos
putas quando nos vestimos de forma considerada sensual/vulgar e dizemos não a
um homem. Somos putas quando nos vestimos de forma "contida" e
dizemos não a um homem. Somos putas quando desrespeitam nosso não e nos abusam.
Somos putas e culpadas. Somos putas de batom vermelho. Somos putas de salto.
Somos putas bebendo. Somos putas na balada. Somos putas na igreja por ''nos
fazermos de santinhas''. Somos putas se transamos quando nós queremos. Somos
putas quando não transamos (''as putas puritanas" dizem os machos). Somos
putas quando dizemos não aos nossos chefes/empregadores. Somos putas quando
dizemos sim aos nossos chefes/empregadores. Somos putas quando engravidamos
antes de nos casarmos. Somos putas se o pai da criança não assume a
paternidade. Somos putas se abortamos. Somos putas se tivermos o bebê. Somos
putas toda vez que escolhemos ser o que somos. Somos putas também todas as
vezes que nossas escolhas ferem o patriarcado.
Sobre ser essa puta subversiva: amo/sou.
Lizandra Souza.
Man 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMan 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirSou puta de batom vermelho mto orgulhosa ainda 😘😘😘
Man 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluireh, nau sou puta.
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