Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Relato de uma leitora: Precisamos falar de assédio sexual na escola


''Olá, tenho 12 anos, estou no sétimo ano e quero contar o que aconteceu comigo. Eu estava em um momento terrível na minha vida, onde eu mal tinha amigos, porque todos haviam revelado serem o oposto, eu me sentia muito mal por guardar tudo o que eu estava passando para mim, então, por achar ele meu amigo, pelo menos é o que eu considerava, comecei à me abrir com meu professor. Depois de um certo tempo, inusitadamente, ele mudou as conversas para conversas mais íntimas, e foi daí que comecei à me desesperar. Contei tudo para minhas amigas, que foram de total importância neste momento, eu estava me tratando de um quadro depressivo, e isso só me prejudicou. Ele pedia constantemente para ter relações sexuais comigo, insistia em encontros, pedia fotos íntimas, eu chorava muito, descontava em mim mesma, meus braços viviam mutilados, eu estava me isolando de tudo e o medo estava me consumindo, única força que tive foi de meus amigos mais próximos, duas meninas e um menino. Foi se passando o tempo e ele percebeu que eu queria que vissem as conversas, ele ficou muito bravo e brigou comigo, na escola era um monstro, eu tinha medo... medo dele tentar algo, medo das ameaças dele, então eu chorava muito, cheguei à ser internada após ter cortado meus pulsos muito próximo de uma veia, estava tudo um pesadelo. Conheci umas feministas, elas me aconselharam e se uniram criando uma base de força, me ajudando a superar isto, eu fiquei mais forte a situação, elas foram criando um movimento contra esse professor, estava tudo muito bem. Mas, um dia, ele mexeu em meu celular, vasculhou tudo, e à tarde me chamou, conversou comigo porque estava com medo. Eu assumi uma postura firme, joguei o que eu estava sentindo, e acho que a coisa que me libertou foi o perdão que dei. Mas... esse momento na minha vida, que nunca achei que iria acontecer, foi horrível, passei perto de morrer, e sei agora o quanto isso é horrível, e desejo força à toda garota que está passando por isso, minha depressão, só piorou, mas, eu vou melhorar, e agora ele está bem longe de mim.''
- Em anônimo para proteger a identidade da vítima.

  Assédio sexual na escola, ele existe e precisa ser combatido. O relato dessa menina de apenas 12 anos é mais um entre tantos casos escritos/falados/expostos ou silenciados, de tantas crianças e adolescentes que sofrem assédio em ambiente escolar de seus próprios professores, maioria dos casos assédio e abuso sofrido por alunas mulheres por parte de seus professores homens. Professores abusadores, eles existem, infelizmente, e sua posição de poder no ambiente educacional, muitas vezes, os isentam de suspeitas e punições. As vítimas, estudantes, quando expõem os casos, muitas vezes, são desacreditadas e mesmo culpabilizadas. A cultura do estupro e da pedofilia faz com que as vítimas que falam sobre o caso sejam culpabilizadas, faz com que elas sejam vistas como "exibidas que provocaram o professor", sendo a culpa desse camuflada e absorvida diante do sistema e da sociedade. Machos isentados de seus erros, nada de novo sob o patriarcado.

Lizandra Souza.

Comentários

  1. Tenho 17 anos e ao ler esse relato tomei coragem de contar a minha história.
    Cresci na casa da minha vó materna, onde marávamos com o marido dela (padrasto da minha mãe) e meus tios. Não sei dizer quando os abusos começaram, mas não me lembro de nenhum momento do qual eles não ocorreram. O marido dela me levava pra um quartinho nos fundos da casa quando estávamos sozinhos e abusava de mim. Eu não entendia o que ele me pedia pra fazer e o por que me tocava de tal forma, mas sentia medo. Não me lembro dele me ameaçar diretamente mas sempre dizia que "nossa segredo" e isso me aterrorizava. Eu me sentia culpada e tinha medo da minha vó brigar comigo pelo que eu fazia. Chorava e tinha pesadelos quase todas as noites.
    Quando completei 7 ou 8 anos tive que ir morar com minha mãe, ja que minha vó havia sido diagnosticada com câncer e devido a uma catarata não enxergava mais.
    Minha mãe morava com o marido dela (meu padrasto) e meu irmão caçula. Com minha vó internada eu passava a maior parte do tempo sozinha, já que minha mãe vivia no hospital com ela. Lembro-me de algumas vezes, deitada na minha cama prestes a dormir, meu padrasto vinha no meio da noite acariciar minhas partes intimas. Eu congelava de medo. Não conseguia gritar ou ao menos me mecher.
    Um ano e meio depois, quando minha vó morreu, minha mãe me perguntou se o marido da minha vó mexia comigo. Comecei a chorar desesperadamente. Minha mãe assustada pedia resposta, então perguntou se ele me tratava feito meu padrasto, ou se me acariciava de alguma forma.
    Com medo, eu disse que me acariciou uma vez mas não chegou a fazer nada comigo. Não disse nada sobre as visitas do meu padrasto ao meu quarto. Não disse nada sobre o que tive que fazer todos os dias em um quartinho com o marido da minha vó. Nunca disse nada a ninguém por vergonha.
    Há dois anos comecei a namorar e meu padrasto não mexeu mais comigo. De alguma forma me pergunto ate hoje se ele não imagina que todas aquelas vezes que ele invadiu meu quarto, eu estava acordada. Me pergunto se ele nunca sentiu medo de que eu contasse pra minha mãe.
    Ele ainda é casado com minha mãe. E o marido da minha vó? Bom, eu não o vejo com frequência mas ainda tenho pesadelos com ele. Ainda tenho nojo e vergonha de tudo que ele fez comigo.
    Me condeno até hoje por ficar em silêncio. Eu nunca contei a ninguém além do meu namorado o que aconteceu. Tive problemas em me relacionar com as pessoas por causa disso. Rezo todos os dias pra que o que aconteceu em minha infância não aconteça com mais ninguém.
    Hoje eu me considero melhor, aprendi com o feminismo que a culpa nunca foi minha, mas ainda não encontrei coragem de contar tudo o que passei.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nossa, miga, sinto muito que vc tenha passado por isso, força!

      Excluir
    2. Sinto muito que vc tenha passado por tudo isso... É, a culpa realmente não é sua. Não tenha vergonha, vergonha deve ter quem fez tanto mal pra vc. Vou te contar o que aconteceu comigo: quando criança meus pais se separaram e minha mãe n tinha condições financeiras de ficar cmg então passei um ano morando com meu pai, infelizmente meu pai (meu herói) começou a ver mt d minha mãe em mim... A noite era horrível, sempre q ele bebia (quase TDS os dias) se esfregava em mim, queria q eu o masturbace eu n entendia nada só sabia q aquilo n era bom. Quando fui morar com minha mãe n demorou mt e ela começou um relacionamento o tio do namorado dela vivia me assediando, chegou a tentar me estuprar... Bom um dia já n aguentando mais de tanto sofrimento contei TD pra minha mãe, mesmo sentindo vergonha, culpa contei TD. Sabe oq ela fez? Ao final do dia quase me bateu pq o tio do namorado dela queria entrar no meu quarto e eu n deixei... Isso até hj está em mim. Você n está sozinha n é fraca vivenciar situações adversas como essas e sobreviver só mostra o quanto somos fortes...

      Excluir
  2. Manas como faço pra enviar um relato?

    ResponderExcluir
  3. Aquele momento em que vemos tantos relatos de abusos ou estupros e ficamos com mais medo ainda de sair na rua, tenho a sorte de não ter ocorrido nada assim comigo, mas sinto tanta dor no coração de pensar que sou uma minoria no meio das mulheres do mundo. :/

    ResponderExcluir
  4. oi eu tenho 14 anos i passei por isso aos meus 9 anos pelo amigo do meu pai foi tudo muito rapido e eu nao sabia o que tinha acontecido por eu ser muito inocente e eu so fui entender tudo aquilo com 11 anos e eu mesmo sem entender o que tinha acontecido eu crorrava todas as noites e nna hora do banho hoje tenho uma amiga que ta passando por isso e temto ajudar mas ate hoje contar o que aconteceu doi muito - assedio e crime sim-

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

Postagens mais visitadas deste blog

"We Can Do It!": você conhece a origem de um dos grandes símbolos do movimento feminista?

We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943. We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) é a legenda de uma das imagens mais conhecidas do movimento feminista. Foi bastante usada a partir do início dos anos 80 do século passado para divulgar o feminismo, desde então várias releituras foram sendo feitas da imagem da moça trabalhadora, usando um lenço na cabeça,  arregaçando as mangas, mostrando um musculoso bíceps e passando a ideia de que "sim, nós mulheres podemos fazer isso!" (sendo este "isso" as atividades tradicionalmente convencionadas aos homens*) ao mesmo tempo em que  se desconstrói a ideia machista de "mulher sexo frágil". Contudo, o que muitas pessoas não sabem é que a imagem foi criada algumas décadas antes, em 1943, e que não tinha nenhuma ligação com a divulgação do feminismo. We Can Do It! originalmente foi um cartaz idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos, criada  por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse El

História do adultério: modelos de comportamentos sexistas com dupla moral

Belmiro de Almeida - Arrufos, 1887 A história do adultério é a história da duplicidade de um modelo de comportamento social machista, possuidor de uma moral dupla, segundo a qual os homens, desde quase todas as sociedades antigas, tinham suas ligações extraconjugais toleradas, vistas como pecados veniais, sendo assim suas esposas deveriam encará-las como "pecados livres", que mereciam perdão, pois não era o adultério masculino visto como um pecado muito grave (a não ser que a amante fosse uma mulher casada), enquanto as ligações-extraconjugais femininas estavam ligadas a pecados e a delitos graves que mereciam punições, pois elas não só manchavam a honra e reputação da mulher adúltera, mas também expunham ao ridículo e ao desprezível seu marido, o qual tinha a validação de sua honra e masculinidade postas em jogo. Esse padrão social duplo do adultério teve sua origem nas culturas camponesas "juntamente com a crença de que o homem era o provedor da família e era

Por que as mulheres reproduzem machismo?

Me ensinaram a pensar assim... e agora? Por que as mulheres reproduzem machismo? Quais os mecanismos discursivos de (re)produção e sustentação da ideologia machista? Mulheres podem ser machistas mesmo não se beneficiando do machismo? Reproduzir machismo equivale a ser machista?  E stas foram algumas perguntas que me fiz há alguns anos quando comecei a ter contato mais íntimo com o movimento feminista ao mesmo tempo em que comecei a me dar conta de discursos machistas que eu reproduzia mais inconscientemente que conscientemente. Porém, somente a cerca de um ano eu comecei a ter respostas mais embasadas, teoricamente falando. Apesar de saber que nós mulheres reproduzimos machismo porque desde que nascemos nós somos inseridas numa sociedade machista que condiciona nossos pensamentos para que a ideologia machista seja internalizada e aceita por nós, isso nunca me bastou. Não me bastou porque mesmo depois de saber que nós somos ensinadas a reproduzir machismo, mesmo de forma

Glossário de termos usados na militância feminista (atual)

Já participou daquele(s) debate(s) feminista(s) e vez ou outra leu/ouviu uma palavra ou expressão e não soube o significado? E cada vez mais, em debates, você passou a ler/ouvir aquela(s) palavra(s)? E o tempo foi passando e mais termos e expressões foram surgindo? E o pior, você pesquisou no Google o significado e não achou? E as palavras, muitas vezes, não existiam nos dicionários formais? Se você respondeu sim, em pelo menos duas perguntas, aconselho conferir o glossário virtual a seguir, no qual pretendo expor e explicar brevemente alguns dos termos e expressões mais usados no meio do ativismo, em especial o virtual. Além dos vários termos e expressões que são usados há décadas nos meios feministas, nós temos também muitos termos e expressões usados atualmente na militância feminista que são fenômenos advindos dos estudos contemporâneos de gênero, outros, ainda, são resultantes da própria necessidade de ressignificação que determinadas palavras sofreram para terem determi

Falocentrismo, misoginia e a ditadura da beleza íntima: normatividades que fazem com que mulheres se odeiem cada vez mais

Beijinho só para quem não agride a ppk. Já pararam para pensar sobre o porquê de tantas mulheres passarem por procedimentos desagradáveis, cruéis e até mesmo perigosos  para se enquadrarem em determinados padrões ou estereótipos de beleza que, em geral, acreditam ser para o próprio bem-estar ou "gosto pessoal" mas que, na verdade, mascaram um gosto assimilado por uma cultura misógina e falocêntrica?  Falocentrismo é o culto ao falo, é a ideia machista de que o pênis é o centro do universo e tudo gira ao redor dele. Culturalmente, a figura masculina cisgênera representa o sujeito do falo, sujeito esse super-estimado socialmente. Aliado ao machismo, o falocentrismo é tão destrutivo que sustenta práticas culturais misóginas que fazem as mulheres odiarem o próprio corpo, até mesmo a própria genitália, pois há um padrão que essa deve seguir, padrão esse criado para o gosto masculino e reproduzido, sobretudo, pela indústria pornográfica: a ideia de uma vagina branca, clar