Quando a gente fala em relacionamentos abusivos,
geralmente vem à mente aquele quadro que figura um casal hétero/cis, no qual a
mulher sofre por causa de comportamentos abusivos, violentos, machistas e
misóginos do macho escroto seu companheiro. Contudo, as relações abusivas não
se limitam as relações entre homens e mulheres cis/héteros. Casais formados por
gays, lésbicas, bissexuais, pansexuais - entre outras sexualidades - incluindo
não só pessoas cisgêneras, mas também trangêneras/transexuais, também estão
sujeitas a comportamentos abusivos, assim como as relações entre pais e filhos,
entre amigos, entre professores e alunos, chefes e empregados, entre outros,
também podem ser abusivas.
A grande massa de relações abusivas entre casais é,
de fato, a constituída das relações entre homens e mulheres héteros. Uma
hipótese que fundamenta esse fato é a socialização díspar de gênero, a qual
ensina os meninos, desde cedo, a tentar ter controle sobre as meninas e essas,
diante disso, a se deixarem controlar. Um comportamento abusivo recorrente nos
relacionamentos héteros/cis consiste no macho se sentir dono da vida de sua
companheira, como ele foi ensinado que a mulher é sua subordinada e
propriedade, ele se sente no direito de controlar as roupas que ela usa,
censurar suas amizades, limitar os espaços que ela frequenta, caso tudo isso
fira sua frágil masculinidade figurada no poder que detém sobre a mulher.
A manipulação psicológica e a emocional são dois
mecanismos usados pelos machos para sustentarem esse controle sobre as
parceiras. Muitos vivem de inferiorizar, humilhar, ridicularizar, enfim, baixar
a autoestima de suas companheiras, fazendo-as crerem que ninguém, além deles,
os ''masculosos do rolê'', as quererão, as amarão e as respeitarão. Ou, ainda,
a dominação manifesta-se de forma física, quando eles agridem suas cônjuges e
usam mil desculpas esfarrapadas de que fizeram isso porque as amam tanto que
não conseguiram se controlar, sendo que não é o amor que bate, que espanca, que
humilha, mas o ódio. Todavia, os machos são seres sapientes, eloquentes,
majestosos, parrudos, têm sempre a razão. "Ah, mas homens, em se tratando
de relações entre pares, também não sofrem com relações abusivas?'', sim,
sofrem, mas são casos isolados, não potencializados e, em geral, não motivados
por questões de gênero. E sim, também podem ser nocivos, mas não é dever nem
pauta das mulheres feministas problematizarem isso, os próprios homens podem
fazer isso, é até melhor que não perdem tempo metendo o bedelho na vida das
mulheres.
Casais formados por homens gays (cis ou trans)
também podem ser abusivos, já conversei com gays que se sentiam reprimidos
pelas atitudes abusivas dos parceiros em tentar definir uma performatividade ou
expressão de gênero que não fosse tão "pintosa", pois ser afeminado,
para muitos gays, é algo abominável, ou, ainda, o contrário, gays afeminados
censurando os parceiros ''masculinizados'', pois uma expressão masculina ''trai
o movimento''. Existem mulheres lésbicas possessivas com as parceiras, que as
objetificam e as agridem fisicamente. Tenho amigas que já vivenciaram relações
abusivas com mulheres lésbicas que não cansavam de as agredir, por acharem ser
suas donas ou ter esse direito por estarem se relacionando. Controle de
vestimenta, de amizades, de espaços, também podem acontecer em relações
não-héteros por parte de um membro do casal. Casais não-héteros também podem
vivenciar relações abusivas, as quais podem ser tão nocivas quanto as vividas
pelos casais héteros-cis, apesar de acontecerem em menor frequência.
E pais e filhos? Claro que também podem vivenciar
relações abusivas, nas quais tanto os pais podem ser abusivos quanto os filhos.
Pais violentos, que se acham donos dos corpos de suas filhas e as obrigam a se
vestirem de acordo com "as leis" deles, mães grosseiras que humilham
seus filhos, pais e mães que expulsam seus filhos de casa ou os espancam por
não serem héteros-cis, pais que estupram suas filhas, mães convenientes com o
abuso de suas filhas por parte de seus companheiros, filhos que tratam as mães como
empregadas e os pais como provedores infinitos de sustento, filhos que
abandonam seus pais na velhice, que os exploram e depois "os jogam fora'',
são alguns exemplos disso.
Existem também aqueles amigos e amigas abusivos.
Quem nunca teve aquela amiga que só procura você quando precisa de ajuda? Ou
aquele amigo sumido que aparece quando não tem mais ninguém para conversar?
Aquelas pessoas que manipulam você, que se aproximam de você, aproveitam da sua
boa vontade, dão a entender que são suas amigas e do nada somem? Sem
explicação, sem aviso, vivem de idas e vindas na sua vida, como sanguessugas,
sugando sua energia e o que há de bom em você, para depois esquecerem que você
existe.
Professores e alunos formam outro grupo que, muitas vezes, vivenciam relações abusivas, tanto por parte do professores quanto por parte
dos alunos. Professores egocêntricos, conservadores, autoritários que
desconsideram as vivências dos alunos, que os tratam como tábuas rasas ou,
ainda, que aproveitam de sua posição de poder para intimidar e assediar alunas
(e alunos) existem, casos e mais casos são o que não faltam. Alunos grosseiros,
intolerantes, prepotentes e assediadores também. Como professora de português e
literatura e, ainda, como estudante/pesquisadora, conheço essa realidade de perto.
As relações abusivas infelizmente se sobressaem muito em ambientes
institucionais, como nas instituições de ensino (superiores ou não).
Relacionamentos abusivos entre empregadores e
empregados também são muito problemáticos, sendo permeados, sustentados e
legitimados pelas relações de poder que fomentam os sistemas de classes, as
estratificações sociais, que privilegiam os detentores do capital em detrimento
da exploração dos descapitalizados. Chefes abusivos, que aproveitam da situação
vulnerável ou desfavorecida de seus subordinados para humilhá-los,
inferiorizá-los, ofendê-los, assediá-los ou descontar neles suas frustrações
são recorrentes no dia-a-dia da classe trabalhadora. Apesar das leis
trabalhistas, dos direitos dos trabalhadores a dignidade humana, nem todos têm
as mesmas oportunidades e condições de enfrentar o sistema e denunciar seus
patrões abusivos.
Esses exemplos são apenas algumas sínteses de como
as relações abusivas são variadas e como as relações de poder social
influenciam-nas de modo que ninguém está livre de sofrer com isso. Listo, diante
disso, alguns comportamentos abusivos gerais que podem permear qualquer tipo de
relacionamento abusivo.
1. Controle. Isso nunca é um bom sinal, não diz
respeito a preocupação e amor que a pessoa sente por você, mas sobre como ela
te ver como um objeto dela que pode ser, inclusive, moldado por ela ao seu
bel-prazer.
2. Manipulação psicológica que ocorre, por exemplo,
quando a pessoa distorce fatos, desvalida suas falas e faz parecer que você está
perdendo a razão por conta de algum comportamento problemático dela que você
questionou.
3. Agressão física: jamais aceite-a sob a desculpa
de falta de controle, pois na verdade é excesso. A pessoa acha ter tanto
controle sobre você que não espeita seu corpo, sua dignidade
humana.
4. Humilhação ou zombaria com você através de pseudopiadas,
em momentos a sós ou públicos, com a família, amigos, colegas de trabalho.
5. Inferiorização da imagem, isso é um comportamento
recorrente de pessoas abusivas, as quais deixam seus alvos com a autoestima
baixa, pois assim eles ficam mais vulneráveis ao seu domínio.
6. Intimidação e/ou ameaças são dois mecanismos
usados pelos abusadores para manipular e manter as relações abusivas, fazendo
com que sua parceira, amiga, filha, empregada ceda a sua vontade.
7. Omissão de fatos, outro aspecto que pode ser
usado em situações de manipulação. Falar "meias-verdades", omitir
fatos importantes não é um bom sinal.
8. Ciúmes excessivos não são sinais de uma relação
sadia e segura. Procure não só ter, como receber, confiança.
9. Desconsideração e falta de empatia. Quando
somente você se preocupa em ser solidário, não é uma relação reciproca,
cuidado, podem estar usando você.
10. Culpabilização x vitimização. Analise se você é
realmente a culpada por um problema, tem muito cara de pau por aí se
vitimizando e atribuindo os próprios erros aos outros.
Não há uma receita de como sair ou evitar relações
abusivas. Estamos sujeitas aos mais diversos relacionamentos abusivos
cotidianamente, pois as relações humanas são tão complexas que hoje podemos ser
as abusadas, amanhã as abusadoras. Resta-nos nos conscientizar e tentar não
cair nessa da forma que pudermos, não banalizando, é claro, essas relações e
achando que qualquer desconforto que passemos é um abuso, logo abrir o olho
para comportamentos abusivos cristalizados nunca é demais. O seguro morreu de
velho, não de abusado.
Lizandra Souza.
Eu sempre me considerei dona de mim mesma, feminista, empoderada até que numa fase muito confusa da minha vida conheci um cara que no início acreditei q era o cara q eu queria ter perto de mim... Eu pensava: temos tanto em comum... Ele parecia gostar de tudo q eu gostava quando conversamos eu sentia que ele era tudo oq eu queria e não tinha encontrado ainda com o tempo começamos a namorar no início tudo era festa e alegria eu adorava estar com ele me sentia livre, feliz, a vontade... Mas o tempo foi passando e ele foi mostrando oq era de verdade... Os abusos começaram de forma sutil... Uma vez fomos pro sítio dele no interior, estávamos com amigos todos bebendo, dancando... O primo dele me chamou pra dançar e n vi mal nisso e aceitei logo após discutimos pq ele achou q meu gesto era coisa de "puta" mesmo n gostando d como ele me tratou continuamos namorando um tempo depois descobri q estava grávida e isso só piorou as coisas ele começou a se mostrar cada dia mais possessivo, ciumento, paranóico e violento... Do nada ele inventava motivos pra me tratar mal... No início às ofensas eram apenas verbais mas depois ele começou a me agredir fisicamente... Diversas vezes grávida ele me disse q me mataria q n deixaria meu BB nascer, apanhei, fui estuprada tudo isso carregando meu BB no ventre... O q me motivava ficar com ele? Medo! Ele ameaçava minha família e a mim e eu sabia q ele era capaz d cumprir com oq dizia e por isso aguentei 6 meses tenebrosos ao lado dele. Eu n tinha paz nenhum momento, vivia controlada pelo medo. Mas o amor pelo o meu bebé meu deu forças pra enfrenta-lo e terminar tudo. Contei TD oq passava nas mãos dele pra minha família e pra dele, deixei claro q se ele me procurasse ele iria se arrepender pois eu n tinha mais medo... N denunciei TD oq vivi pq infelizmente a lei Maria da penha ainda n é tão eficaz quanto deveria...mas aconselho sim a denunciar... Não permita q ninguém te menospreze, machuque... O medo paralisa mas é melhor enfrentar do que viver angustiada...
ResponderExcluir''O medo paralisa mas é melhor enfrentar do que viver angustiada...'', é isso mesmo, miga!
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