Feministas, as filhas de satã. Bruxas. Putas.
Degeneradas. Mal-comidas. Mal-amadas. Mulheres-machos. Histéricas. Feias.
Peludas que usam sangue de menstruação em pactos com o diabo. Anti-higiênicas.
Imorais. Misândricas opressoras de machos. Loucas que buscam privilégios para
as mulheres. Assassinas de bebês. Cortadoras de bilaus. Destruidoras da
família, da moral e dos bons costumes. Esses são alguns dos discursos
antifeministas usados para deslegitimar e difamar a luta das feministas na e
para a sociedade.
Antifeministas criam estigmas sociais, discursos e
imagens problemáticas associadas ao feminismo para fazer com que as pessoas,
sobretudo as mulheres, odeiem as feministas. Isso explica o fato de que apesar
de toda sua história, lutas e conquistas em prol das mulheres, ainda hoje
existem pessoas que desprezam o feminismo. Esse ódio desmedido contra as
feministas é a demonstração do ódio institucional contra as mulheres, é uma
expressão direta da misoginia, isto é, do ódio, da repulsa ou desprezo pelo
gênero feminino ou tudo o que a ele é relacionado. Não é apenas alienação, é
ódio contra a mulher. Essas práticas discursivas que distorcem o movimento
feminista e o que ele representa foram constituídas e são (re)produzidas,
legitimadas e sustentadas numa sociedade que odeia mulheres, sobretudo mulheres
que lutam por mulheres.
Quais pessoas historicamente lutam de forma
articulada pelas mulheres, por seus direitos e por seu lugar de cidadã na
sociedade? As feministas, mulheres que lutam pela desinstitucionalização do
ódio que a sociedade patriarcal legitima contra as mulheres. Esse ódio é
manifestado no estupro, no feminicídio, na agressão física, verbal, emocional e
psicológica contra a mulher pelo simples fato de ela ser mulher. E o que é ser
mulher? Em questões sociais, é ser o sexo frágil e inferior, o apêndice
masculino, a propriedade sexual dos machos, a dona de casa submissa, a
útero-vagina-ambulante, a silenciada, a abnegada, a reprimida, a julgada, a
culpabilizada, a agredida, a humilhada, a violada.
A violência contra a mulher somente pelo fato de ela
ser mulher é a expressão do ódio institucionalizado ao gênero feminino. Quando
um homem assassina sua (ex)companheira porque ela não quis mais estar ao seu
lado, ele está demonstrando que via aquela mulher como um objeto sexual seu e
que, portanto, não tinha o direito de viver se não fosse sob seu controle.
Quando um homem estupra uma mulher ele está demonstrando que a força física
dele é superior a dela, que ele tem o poder e, portanto, irá submetê-la a algo
que ela não quer, pois a recusa dela não o interessa diante da demonstração do
poder do macho. Quando uma mulher é culpabilizada pelo estupro por causa de
suas roupas, do lugar onde estava, do que ela tinha bebido, a sociedade que a
culpabiliza está demonstrando que a odeia tanto que o estuprador teve motivos
para violentá-la, que a culpa pelo estupro é dela, não do macho estuprador.
Para ela a culpa, para ele a desculpa. Quando a sociedade legitima que a mulher
que sofre violência doméstica ''apanha porque quer'', ela está dizendo que a mulher
é, mais uma vez, culpada pela agressão que sofreu do macho, isso porque não
importam as condições em que ela vive, os filhos que ela tem que sustentar, as
ameaças que ela tem que suportar, a vergonha, o medo e a dor que ela carrega no
corpo e na alma, pois o macho só é agressor porque a mulher deixa ele ser. Ela
é a responsável pela canalhice dele.
Nós feministas buscamos mudar essa realidade e isso
incomoda. Incomoda porque a mulher em situação de violência constitui as bases
para os privilégios masculinos e a luta pelo fim da violência contra a mulher
constitui um obstáculo a manutenção do poder masculino. Por isso a sociedade
misógina, regulada pela dominação masculina, internaliza nas mulheres as
ideologias misóginas, ensina às mulheres que ''feminismo é falta de rola",
é falta do que fazer, que ''feminista é tudo louca mal-amada'', que
"mulher de verdade não precisa do feminismo", para que as mulheres
não formem um grupo articulado contra a sustentação do poder do macho.
Todavia, isso não basta para impedir que as mulheres
feministas continuem com a luta, logo outras ferramentas são usadas para
refrear o movimento feminista, entre elas a censura feminina por meio das redes
sociais. Delas cito aqui o Facebook, por ser a rede que mais interajo com outras
militantes virtuais.
Ser mulher, feminista, LGBT+ e/ou pessoa negra e
militar virtualmente no Facebook vem se demostrando nos últimos anos um ato de
resistência. Cada vez mais nós ativistas das mais variadas causas recebemos
ataques em massa de grupos reacionários e temos nossas contas e páginas de
militância bloqueadas porque supostamente elas ferem os padrões da rede. E é aí
que fica a dúvida, quais padrões são esses?
Segundo as políticas do mecanismo de denúncia do
próprio Facebook, nós podemos denunciar perfis, páginas e publicações se
existirem neles a reprodução de discurso de ódio a um sexo, etnia, crença,
orientação sexual... apologia/incitação ao crime, conteúdo sexualmente
explícito/nudez/pornografia, posts que descrevam a compra ou venda de drogas,
de armas ou produtos adultos... conteúdo que seja ameaçador, violento ou
suicida entre outros. Na teoria isso é lindo, afinal são padrões que prezam
pelos direitos humanos, pela integridade e segurança das pessoas que estão conectadas
na rede. Mas na prática as coisas funcionam bem diferentes. A hipótese que eu
tenho é que o que importa, para a equipe que recebe e analisa as denúncias
ocorridas na comunidade, não é o conteúdo do que foi denunciado, mas a
quantidade de denúncias que ele recebeu, o que deixa nós, ativistas,
vulneráveis aos ataques em massa, de grupos reacionários, os quais, se
pensarmos bem, ainda fazem parte das hegemonias, logo têm maior poder de
articulação.
Seja através de discursos falaciosos, seja por meio
da culpabilização ou censura, a todo momento querem nos silenciar. Isso nada
mais é que ódio e medo. Nos odeiam e nos temem pelo que representamos.
Representamos a força feminina e a chance de transformação social das relações
de poder.
Lizandra Souza.
Meninaaaa, Eu Amei Este Texto, Nunca Li Tantas Verdades Como Li Hoje! Parabéns, Curto sua Página no Facebook e Sei o quanto É "Difícil" ser Feminista Numa Sociedade Machista; Principalmente Porque eu Tenho Somente 13 Anos e Acham que é Só Uma Fase, Mas Não, Não é... Escolhi Ser Feminista, e Não Me Arrependo! Parabéns! ❤
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Muito bom! Até um certo tempo atrás não me considerava feminista, até que uma amiga militante me disse que o simples fato de ser mãe é manter minha filha sozinha sem a necessidade de um macho pra prover o meu sustento e da minha filha e nem pra ajudar na sua educação faz de mim uma feminista.
ResponderExcluiro problema , como em todas as causas , existem pessoas que destrocem os valores principais . de facto existe ''feministas '' que em vez de lutar pela igualdade de genero , procuram a superioridade da mulher . e infelizmente por uns , pagam outros .
ResponderExcluirAcho que é machismo deixar de sair porque o namorado não vai, mesmo indo outras pessoas conhecidas e amigas. Mas muitos homens deixam de ir também pelas namoradas, acho que talvez nao seja machismo e diga respeito a um aspecto problemático relacionada ao conceito da monogamia de um suposto "respeito" pelo parceiro. Ou "companheirismo" Aff! Acho que é uma questão de entender como propriedade, como um(a)namorado(a) deve se comportar, o que é adequado em um relacionamento amoroso. Beijo e bom trabalho, com luz e coragem! Deus tá com você na sua caminhada, Ele é justo e bom!
ResponderExcluir