Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Cara amiga feminista...


Cara amiga feminista

Não se condene demasiadamente por reproduzir machismo inconscientemente e só depois perceber que o reproduziu, não sinta que é menos feminista porque seu relacionamento é abusivo e você não sabe como sair dele de fato, não pense que é hipócrita só porque você têm amigas e amigos que não compactuam com o feminismo (porque você não tem escolha e não quer estar sozinha), não se culpe por não saber como desconstruí-los (ainda), apesar de tentar e de problematizar o que falam, não se menospreze por não conseguir se livrar totalmente dos padrões de feminilidade, não se ache burra por não entender ainda as teorias de gênero ou as várias vertentes feministas. Você não precisa ter uma vertente pra ser feminista. Você não precisa conhecer as teorias que embasam as vertentes feministas para se dizer feminista. Você precisa conhecer vertente/teoria pra falar sobre ela, para se posicionar politicamente de um determinado lado, não para se legitimar enquanto feminista. 
É interessante que você conheça vertentes e teorias para o próprio desenvolvimento e enriquecimento da sua vivência enquanto alguém que busca contra-hegemonizar o sistema patriarcal, mas isso é com o tempo, no seu tempo, de acordo com suas vivências e oportunidades. Você não é menos feminista porque não domina teorias e/ou ainda não tem uma vertente definida. Você não é menos feminista porque mesmo se assumindo feminista as vezes você ainda reproduz machismo. Você não é menos feminista por não conseguir desconstruir todos a sua volta. Você não é menos feminista porque não conseguiu, ainda, nem desconstruir a si própria como gostaria.
Não se cobre perfeição, esse mundo virtual de tombamento e utopias em que as feministas de ''verdade'' são heroínas, divas e poderosas que nunca reproduzem machismo, que preferem ficar em casa sozinhas que sair com amigos ignorantes ou antifeministas, que se livraram de todos estereótipos de gênero e dominam tudo acerca do movimento feminista só existe mesmo na internet. Ninguém nasce feminista: torna-se. É um aprendizado para a vida toda. 



Lizandra Souza.

Comentários

  1. Obrigada por esse texto. Ele veio na hora certa.
    Força para nós, mana.
    Muito obrigada!!!

    ResponderExcluir
  2. Foi a melhor coisa que li hoje de manhã. Tenho 5 anos de estrada defendendo o feminismo, e sem dúvidas que é um aprendizado pra vida toda. E eu fico feliz com isso. Obrigada pelo texto 💜

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

Postagens mais visitadas deste blog

História do adultério: modelos de comportamentos sexistas com dupla moral

Belmiro de Almeida - Arrufos, 1887 A história do adultério é a história da duplicidade de um modelo de comportamento social machista, possuidor de uma moral dupla, segundo a qual os homens, desde quase todas as sociedades antigas, tinham suas ligações extraconjugais toleradas, vistas como pecados veniais, sendo assim suas esposas deveriam encará-las como "pecados livres", que mereciam perdão, pois não era o adultério masculino visto como um pecado muito grave (a não ser que a amante fosse uma mulher casada), enquanto as ligações-extraconjugais femininas estavam ligadas a pecados e a delitos graves que mereciam punições, pois elas não só manchavam a honra e reputação da mulher adúltera, mas também expunham ao ridículo e ao desprezível seu marido, o qual tinha a validação de sua honra e masculinidade postas em jogo. Esse padrão social duplo do adultério teve sua origem nas culturas camponesas "juntamente com a crença de que o homem era o provedor da família e era

10 comportamentos que tiram o valor de um homem

   Hoje em dia os homens (cis, héteros) andam muito desvalorizados. Isso faz com que muitos sofram amargamente nas suas vidas, sobretudo na vida amorosa.  Outro dia eu estava vendo uns vídeos de forró, funk, sertanejo e fiquei chocada com o comportamento vulgar dos rapazes. Agora deram pra ralar até o chão como um bando de putinhos a busca de serem comidos... e a gente, mulherada, já sabe que se o boy rala o pinto no chão é porque ele é um homem rodado, um mero bilau passado.    Antigamente, no tempo de nossas avós, o homem era valorizado pelo seu pudor virginal, não pela sua aparência. Homens eram um prêmio a ser alcançado pelas mulheres, eles tinham que ser conquistados, ganhados. Hoje em dia, muitos machos estão disponíveis para qualquer mulher num estalar de dedos. Escolhe-se um macho diferente a cada esquina. E a mídia ainda insiste em dizer que homem pode dar pra quantas ele quiser, fazendo os machos assimilarem uma ideia errada e vulgar que os levarão a serem infe

Vamos falar de misandria?

 O que é misandria no feminismo?   É o ódio generalizado aos homens?   N Ã O.  A misandria geralmente é dicionarizada como sendo o ódio aos homens, sendo análoga a misoginia: ódio às mulheres. Esse registro é equivocado e legitima uma falsa simetria, pois não condiz com a realidade social sexista vivida por homens e mulheres. Não  existe uma opressão sociocultural e histórica institucionalizada que legitima a subordinação do sexo masculino, não existe a dominação-exploração estrutural dos homens pelas mulheres pelo simples fato de eles serem homens, todavia existe o patriarcado: sistema de dominação-exploração das mulheres pelos homens, que subordina o gênero feminino e legitima o ódio institucional contra o sexo feminino e tudo o que a ele é associado, como, por exemplo, a feminilidade. Um exemplo: no Nordeste é um elogio dizer para uma mulher que "ela é mais macho que muito homem", tem até letra de música famosa com essa expressão, contudo um homem ser chamado de

"We Can Do It!": você conhece a origem de um dos grandes símbolos do movimento feminista?

We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943. We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) é a legenda de uma das imagens mais conhecidas do movimento feminista. Foi bastante usada a partir do início dos anos 80 do século passado para divulgar o feminismo, desde então várias releituras foram sendo feitas da imagem da moça trabalhadora, usando um lenço na cabeça,  arregaçando as mangas, mostrando um musculoso bíceps e passando a ideia de que "sim, nós mulheres podemos fazer isso!" (sendo este "isso" as atividades tradicionalmente convencionadas aos homens*) ao mesmo tempo em que  se desconstrói a ideia machista de "mulher sexo frágil". Contudo, o que muitas pessoas não sabem é que a imagem foi criada algumas décadas antes, em 1943, e que não tinha nenhuma ligação com a divulgação do feminismo. We Can Do It! originalmente foi um cartaz idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos, criada  por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse El

Hétero-cis-normatividade, o que é?

Nossa sociedade é hétero-cis-normativa. Isso significa que a heterossexualidade e cisgeneridade são compulsoriamente impostas. Não, não estou dizendo que vocês, heterossexuais-cis, são héteros-cis por compulsão. Quero dizer que há um sistema social que designa TODO MUNDO como sendo hétero-cis ANTES MESMO do nascimento e posteriormente tudo o que foge disso é considerado anormal, imoral e, em muitas sociedades, ilegal.  Antes mesmo de a pessoa nascer, desde o ultrassom, quando é identificado que ela tem pênis ou vagina, há imediatamente uma marcação sexual e de gênero: se tem vagina, vai ter que ser menina, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menina'' e, por isso, vai ter que gostar de menino; se tem pênis, vai ter que ser um menino, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menino'' e, por isso, vai ter que gostar de menina. E aí, quando a pessoa com vagina ou com pênis