Feminismo, de modo genérico, pode ser
definido como um movimento que busca a equidade social, política e econômica
entre os gêneros. Acontece que além dessa definição geral, existem pautas ou bandeiras específicas levantadas pelas mais variadas vertentes/núcleos
do movimento. E muitas vezes a gente que tem acesso a espaços de militância se
depara com a expressão "briga de vertente". Pois bem, o que é isso? É
simplesmente o fato de existirem divergências teóricas simples entre cada
núcleo feminista ou pode haver algo mais?
Briga de vertente no feminismo nada mais é
que você se posicionar politicamente pra defender a sua vertente. Contudo,
isso não significa que o que você esteja fazendo seja ISENTO de sustentar
mecanismos de opressão. O que muita feminista não sabe ou admite.
Feminismo é política.
Não dá pra haver neutralidade, você tem
que se posicionar.
Cada vertente do feminismo é pautada por
ideologias políticas.
Feminismo intersec tem uma forma de lutar
baseada em determinadas ideologias. No marxista, negro, liberal, radical,
anarquista, indígena... acontece o mesmo. Algumas vertentes se chocam
radicalmente porque possuem posições ideológicas totalmente opostas, como
ocorre entre a marxista e a liberal ou entre a interseccional e a
radical.
Se você é feminista intersec de verdade é
óbvio que você não vai tolerar mulher cisgênero chamando mulher transgênero de
''macho de saia''. Pois isso é transfobia, logo uma opressão. E no intersec
todas as opressões devem ser combatidas. Se você é feminista liberal você vai
deslegitimar as feministas intersecs que prezam por protagonismo nas pautas.
Afinal, pra você pouco importa visibilidade da pessoa oprimida. Todo mundo deve
ter a mesma voz no movimento. Se você é feminista marxista ou anarquista você
não vai concordar com as pautas liberalóides do libfem por este se alinhar em
muito com políticas de direita. Se você é feminista radical você não vai
aceitar a pauta do libfem que permite homem cisgênero protagonizando
feminismo... Tudo isso é divergência teórica. Mas lembrem-se: nenhuma
teoria está isenta de ideologia e nenhuma ideologia está isenta de opressão.
Quando a gente defende politicamente a
nossa vertente, a gente defende também uma ideologia. Não dá pra unificar todas
as vertentes feministas se elas divergem radicalmente em suas posturas. Existem
algumas que dão pra se alinharem por dialogarem, tipo intersec, negra,
indígena, marxista e anarquista. Mas outras não. Não tem como
contra-hegemonizar com a estrutura transfóbica da nossa sociedade legitimando a
teoria identitária original do radfem, por exemplo. Ou lutar contra o
capitalismo seguindo a lógica liberal.
Eu brigo por vertente sim. Eu me posiciono
sim. Pois vertente nenhuma é perfeita, muito menos é isenta de sustentar formas
de dominação-exploração.
Existem feministas racistas.
Existem feministas LGBTfóbicas.
Existem feministas elitistas.
Existem feministas gordofóbicas.
Existem feministas capacitistas.
E isso acontece porque existem feministas
privilegiadas em um ou mais sistemas de dominação-exploração. Antes de sermos
feministas, somos mulheres com posições sociais diversificadas (classe, etnia,
sexualidade, condição de gênero...). E quando se está do lado privilegiado é
necessária muita empatia para tirar o véu dos privilégios da cara.
E pasmem: elas vão continuar existindo
enquanto a gente não criar noção do ridículo e parar de passar pano para mulher
opressora só porque ela é "feminista".
Lizandra Souza.
Segmentos do feminismo podem perpetrar todo tipo de opressão e ganham o benefício da dúvida ? interessante isso; só mais uma coisa que eu reparei, elas pode promover discurso de exclusão mas elas não chegam a ser misândricas também ? ou isso de odiar o gênero oposto é inerente à maldade masculina ?
ResponderExcluirÚnico texto que achei a respeito, estou procurando sobre vertentes, e não vejo nenhum sentido. Feminismo é um só, um único objetivo e ideal.
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