Sou feminista radical.
Pertenço a vertente mais odiada do movimento mais odiado.
Vi a frase acima algumas vezes nas últimas semanas no meu perfil do facebook. Minha reação não podia ser outra.
Feminismo radical não é a vertente mais
odiada do movimento mais odiado.
PAREM DE PASSAR VERGONHA!!!
Pra ser a vertente mais odiada precisaria
o radfem ser composto pelas pessoas mais odiadas institucionalmente e o que o
feminismo radical atual (hegemonia) não é feito é dos grupos minoritários
políticos em comparação a outras vertentes protagonizadas por mulheres pobres,
mulheres negras, mulheres LGBT+.
Feminismo radical pode ser a vertente mais
rejeitada e criticada pelas outras vertentes que, com exceção da liberal,
dialogam em muito, há divergências, obviamente, mas desde a interseccional,
passando pela anarquista, negra, indígena, até a marxista... você vê recortes
essenciais de gênero, classe, sexualidade e etnia, o que faz com que os
sujeitos políticos das vertentes não se deslegitimem enquanto sujeitos
políticos em busca de um fim comum: desinstitucionalizar e posteriormente
acabar com as mais diversas relações assimétricas de poder já que há um diálogo
entre a manutenção das opressões de classe, gênero, sexualidade e etnia.
E isso (a crítica ao radfem atual) não tem
nada a ver com ódio, mas com noção do ridículo: que é se basear em uma teoria de
abolição de gênero falha, incoerente e propensa a ir a lugar nenhum.
Por quê?
Não tem como abolir gênero ao mesmo tempo
reivindicando uma categoria de gênero. Só teria coerência uma luta pela
abolição de gênero se quem se propusesse a isso se reivindicasse como sendo uma
pessoa sem gênero, agênero, já que não se identifica com nenhum gênero, e pra
isso você não poderia mais dizer "sou mulher", pois você estaria
legitimando e sustentando algo que você quer destruir.
Você poderia dizer "a sociedade me lê
como mulher, me socializou como mulher, mas eu não sou, eu não me identifico
como mulher". O que acontece é bem diferente nessa luta pra pseudo-abolir
gêneros. Tem mulher se reivindicando como mulher porque tem vagina, útero,
anatomia determinada pela ciência como feminina. E usando disso pra
deslegitimar mulheres que não foram designadas mulheres ao nascer. Ah,
lembremo-nos, anatomia tem uma história (bem misógina, por sinal), logo se não
é a-histórica, não é inata, não é um fato dado, também deve ser problematizada
de acordo com as ideologias dominantes.
Não tem como abolir o ser-mulher se você a
todo instante se designa assim bem como não nega isso. Socialização te impôs
isso? Okay, mas você não é um robô e já pode muito bem começar a negar isso:
ser mulher. Mas não, você continua se designando como mulher. E cagando regra
por aí como é "se sentir mulher", e chorando quando não vê uma mulher
"como você".
Já repararam que as pessoas que não veem a
necessidade de as outras pessoas se identificarem com um gênero, nenhuma delas
se apresentam como sendo pessoa de nenhum gênero, isto é, nenhuma começa a se
reivindicar agênero.
Quantas rads agêneros vocês conhecem?
Quantas negam o ser mulher e se reivindicam enquanto pessoas sem gênero? Ora,
se buscam um mundo no qual não exista isso de homem, mulher... porque insistem
em se designar mulheres? Dá muito bem pra se designar como "sou uma pessoa
que quando nasceu foi designada mulher", tal expressão não legitima a
categoria mulher. Agora, pessoas agêneros existem (e não é uma escolha), mas se
elas foram designadas homem ao nascer, só pela designação e socialização (a
qual envolve fatores não só de gênero designado e leitura, mas de etnia,
sexualidade, classe...) logo chove terf (feminista radical trans-excludente)
dizendo que é macho querendo silenciar mulher. Ou se uma pessoa agênero foi
designada como mulher, mas não é mulher, logo chove terf pra dizer que essa
pessoa está confusa, que é uma mulher negando ser mulher por causa da opressão
e do queer.
Radfem atual perde mais tempo perseguindo
e humilhando mulheres trans e travestis que pautando a favor das mulheres
designadas mulheres ao nascer. Vá em blogues, páginas, sites de ativismo
radical, em geral grande parte ou mesmo a maioria das discussões vai girar em
torno de transexualidade e queer (pseudo-queer), falam mais de transexuais que
as pessoas trans e trans aliadas, uma pena fazerem isso de forma desonesta.
Como sempre que rola crítica ao feminismo
radical quanto a exclusão de mulheres trans e travestis surge mina para falar
que é por causa da socialização díspar, eu vou contar um "segredo"
para vocês:
Socialização das mulheres cisgêneras, isto
é, das mulheres designadas mulheres ao nascer, também é díspar.
Vejamos.
Mulheres cis brancas e mulheres cis negras
(considere mais etnias) têm socializações diferentes.
Mulheres cis ricas e mulheres cis pobres
têm socializações diferentes.
Mulheres cis héteros e mulheres cis
não-héteros têm socializações diferentes.
Mulheres cis sem deficiência e mulheres
cis com deficiência têm socializações diferentes.
Mulheres cis magras e mulheres cis gordas
têm socializações diferentes.
Todos os condicionamentos e integrações
sociais de gênero, classe, etnia, sexualidade etc dialogam entre si a formar os
sujeitos sociais e a inseri-los nas relações assimétricas de poder.
Por um lado, mulheres cis são
socializadas, em questões de gênero, de forma repressora só por terem vagina,
de acordo com a leitura social que subordina pessoas com vagina. Okay?
Okay!
Por outro lado, mulheres trans têm uma
socialização privilegiada igual a dos machos cis, okay? NÃÃÃO! SEM OKAY!
Mulheres trans não têm uma socialização
privilegiada igual a dos homens cis em questões de gênero. É absurdo acreditar
que uma mulher trans desde criança não sofre com os condicionamentos de gênero
opostos a sua identidade, a sua subjetividade, a sua mulheridade. Como NOME, PRONOME,
ROUPAS, BRINQUEDOS. Sem falar nas "correções de gênero" ligadas a
violência física, emocional, psicológica... que essas mulheres sofrem para se
integrarem no gênero o qual lhes foi designado ao nascer. Dessa
forma, eu não me refiro a papéis restritivos de gênero, mas a fatores mais
ligados a IDENTIDADE SOCIAL.
Deixa eu falar uma coisa pra vocês:
Ambas mulheres importam... TODA MULHER
deve ter seu espaço no feminismo, protagonizar suas pautas e apoiar as outras.
Você radfem é trans-excludente não por lutar pelo fim da opressão das mulheres
que nasceram com vagina, as cis, as designadas mulheres ao nascer, a buceta a4,
mas por perseguir, humilhar, deslegitimar mulheres trans e travestis, grupos
políticos já massacrados pelas hegemonias sociais.
FALE DE BUCETA.
MILITE PELAS PESSOAS COM BUCETA.
PRECISAMOS!!!
SÓ NÃO QUEIRA QUE TODO MUNDO SE LIMITE A SER
UMA BUCETA AMBULANTE.
SÓ NÃO LIMITE SUBJETIVIDADE, IDENTIDADE, A
GENITAL. SÓ NÃO LIMITE A HUMANIDADE DAS PESSOAS AOS SEUS GENITAIS.
Negar o que uma pessoa é, é negar sua
humanidade.
Seu direito a legitimação da própria
identidade.
Feminismo negro é o maior exemplo de que
se pode pautar por um grupo específico de mulheres sem precisar excluir,
deslegitimar ou discriminar outras. Visitem páginas, blogues e perfis de
feministas negras, elas, em geral e em MASSA, estão mais preocupadas em pautar
pelas mulheres negras que deslegitimar a luta das mulheres brancas. E não me
venham com "racismo reverso'' porque sarcasmo usado por uma parte da
militância negra com pessoas brancas hipócritas e racistas é diferente de
discurso de ódio usado por radfems ao dizer que mulheres trans são doentes
vítimas de pedofilia que ficaram com transtorno de gênero ou que são, ainda,
estupradores de saia, que homens trans são lésbicas confusas pela indústria
queer, que bissexuais não existem, que o feminismo deve acolher apenas mulheres
nascidas com vagina ou socializadas como mulheres, entre outros absurdos.
Lizandra Souza.
"Não tem como abolir gênero ao mesmo tempo reivindicando uma categoria de gênero"
ResponderExcluirEu não entendi. A crítica é feita a proposta do feminismo radical de abolir gênero ou somente a suposta incoerência de reivindicar a categoria de gênero?
Eu sou feminista e estou lendo muito sobre as vertentes do feminismo. Mas o feminismo radical me parece a mais coerente, pelo menos nas questões de gênero. Os textos que eu encontrei criticando o feminismo radical são apelativos, como este. São muitas falácias, adjetivos, argumentum ad hominem (TERF , Transfóbica)e pouca lógica, sem maldade. Comparar Ku Klux Klan com feminismo radical??? Oi?? Eu me deparei, nas paginas de feminismo radical, alguns artigos científicos embasando a teoria que vc comparou com Ku Klux Klan. Mas enfim...