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LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Por que gordofobia existe, mas magrofobia não?



Todas as mulheres (na verdade todas as pessoas, mas, por questões de gênero, farei esse recorte) sofrem ou estão sujeitas a sofrerem com a PRESSÃO ESTÉTICA resultante da idealização de beleza imposta pela indústria capitalista da beleza/moda, na qual a imagem do corpo feminino vira objeto de compra-venda e, consequentemente, a ideologia revestida nela faz com que as mulheres tenham suas autoestimas prejudicadas pelo que é imposto como bonito e ideal a ser seguido e alcançado para realização/felicidade plena delas, o que geralmente enquadra-se no padrão branco, cis e magro. 
TODAVIA, nem todas as mulheres sofrem com algo estruturalmente e metodicamente instituído em sociedade para discriminar, segregar, inferiorizar, patologizar e excluir EM MASSA um determinado padrão de mulheres não-padrão de beleza, que é, por exemplo, o das mulheres gordas, sejam elas brancas, negras... altas, baixas... cis ou trans. Esse algo pode ser chamado de OPRESSÃO ESTÉTICA, pois há uma institucionalização e hierarquização que dá privilégios a um grupo em detrimento das desvantagens dos demais. Nesse caso, o privilégio de ser magro para quem é magro numa sociedade gordofóbica que humilha, patologiza, exclui, animaliza pessoas gordas só por serem gordas. E não se trata só de tamanho de roupa disponível nas lojas, o que já é muito sério, mas de recusa a vaga de emprego pelo seu peso, preterimento massivo em relacionamentos sérios, ausência de representatividade ou, ainda, representatividade animalizada e ridicularizada, associação patológica e discriminatória ao seu peso, as vagas em transportes não serem adequadas ao seu tamanho... entre tantas outras coisas que pessoas gordas sofrem EM MASSA só por serem gordas e que pessoas magras nem de longe sofrem só por serem magras. 
Insistir na existência da magrofobia, amigas, é invisibilizar a opressão que as mulheres gordas sofrem, é falta de empatia e solidariedade, o erro fica ainda mais feio se você é feminista e não tem sororidade com quem em relação a você é estruturalmente desprivilegiada. É invisibilização e banalização porque promove uma falsa simetria entre o ''sofrimento'' de ser magro x ser gordo numa sociedade que privilegia magros só por serem magros. Pessoas gordas não têm privilégios por serem gordas, pessoas magras têm, logo é falsa simetria dizer que existe magrofobia, isto é, opressão contra magros. 
Tais privilégios magros, contudo, não impedem que pessoas MUITO magras, cuja magreza não seja tão próxima do padrão, não sofram discriminação ou preconceito; não impedem que elas tenham baixa autoestima ou que elas tenham dificuldade de encontrar um determinado tamanho de roupa que fique bem em seus corpos; não  as impedem de escutar piadas preconceituosas ou termos pejorativos pela sua estética MUITO magra, que elas sofram com distúrbios alimentares, etc. Apesar de não ser algo estrutural ou genérico, mas circunstancial e restrito a determinados contextos, o bullying estético é algo sério que também precisa ser combatido, pois afeta a imagem da mulher sobre si mesma, sua autoestima e amor próprio, ainda mais se a mulher ainda não atingiu a fase madura da vida, ainda é (pré)adolescente e está desenvolvendo sua personalidade, identidade e autoimagem.


Lizandra Souza.

Comentários

  1. Eu não consigo entender o porque do fato da Gordofobia existir automaticamente anula os problemas das mulheres magras.
    Eu entendi na maioria, o que você quis explicar no texto, mas ainda continuo me fazendo essa pergunta.
    Não estou necessariamente pensando no termo "Magrofobia" mas sim no significado por trás dela.

    Eu sou uma mulher magra. Realmente magra, e sinceramente, não vejo privilégio nisso.
    Não estou tentando comparar os problemas de uma mulher gorda com os problemas de uma mulher magra, mas sim tentando colocar meu ponto.
    Quando uma garota gorda não se sente confortável comendo em público, uma garota magra vai comer até sufocar só pra mostrar que come.
    Enquanto a gorda é chamada de baleia a magrinha é chamada de doente anoréxica.

    Minha vida não é perfeita só pq eu consigo ver meu tamanho de corpo nas revistas. Até porque eu sou a mais feia da turma e não faço nenhum sucesso na balada.

    Os problemas, é claro vão muito além disso e estão cravados em nossa sociedade como um dente podre, e eu acho que todos deveríamos estar lutando contra esse tipo de preconceito.

    Estou por um lado muito feliz de finalmente estarmos falando sobre gordofobia e como isso pode afetar a vida das pessoas. Mas por outro lado eu sinto que estou sendo um pouco inferiorizada. Por que "homem não gosta de osso" por que "mulher de verdade tem curvas" por que a cada foto que posto estou "promovendo anorexia" e sou xingada por gente que nem sequer conheço, mas quase ninguém se prontifica a tentar me defender. Eu sou "tábua de passar roupa" "olivia palito" "deveria comer um hambúrger" e etc mas tudo bem, eu sou magra, não me ofendo.

    E também não posso reclamar. De jeito nenhum. Ser chamada de anoréxica é um privilégio.

    Não é rude insistir na existência da "Magrofobia" ou seja lá como é que chamam, só porque as pessoas gordas sofrem mais. Rude mesmo é tentar fingir que ser magra torna a pessoa feliz, cheia de alto estima e blindada de qualquer mal.

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    Respostas
    1. Eu sou homem, e sou magro. Um dos motivos do bullying que eu sempre sofri durante toda a minha juventude é justamente o fato de eu ser magro. Mas eu me sinto bem em ser magro, o problema é que muitas pessoas são muito cruéis em seus comentários. Durante toda a minha vida já me disseram muitas frases pejorativas como:"olha a 'magrém' desse cara", "só pode estar doente", "essa caveira não foi enterrada ainda?" entre vários outros insultos.

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  2. Gente, sou uma mulher gorda.... sim, obesa (IMC maior de 30 para quem não sabe). Passei a minha vida inteira sendo gorda, balançando entre os pesos, porque tive compulsão alimentar a vida toda. Amava me exercitar e quando tive a possibilidade de fazê-lo consegui diminuir bastante meu peso. No entanto, as contínuas idas e vindas da vida me fizeram cada vez mais sedentária. Resultado: sou obesa. Com um pouco do que a obesidade traz em si: osteoartrite aos 23 anos. Isso é doença. Não há o que negar. Nunca neguei que era doente e não o pode-se fazer. GENTEEE, acorda!!!! A MEDICINA estuda e estuda pra caralho (sou estudante de Medicina, sei do que tô falando). Ela não está aqui para nos menosprezar, está para ajudar! Se o médico é gordofóbico isso é coisa dele
    Não da Medicina! São feitos estudos enormes para se descobrir o que a doença é pra um bando de gente sem noção dizer que não é doença. Não vai deixar de ser tratado como tal porque o é! Obesidade é doença crônica que te mata aos poucos mesmo que você não sinta nada, mesmo que isso não esteja aparente. Então, esse papo de gordofobia em todas as instâncias da vida simplesmente não existe. A pessoa se ofende com tudo, absolutamente TUDO. Quero mulheres negras e indígenas na TV, pq elas não tiveram o espaço. Quero mulheres cadeirantes, mulheres com baixa estatura, mulheres muito altas. Elas são sempre excluídas. Quantas vezes pedimos para uma famosa cadeirante um autógrafo? Vamos enxergar as necessidades das coisas, pessoas estão morrendo de obesidade, melhor que nos tratemos. A sororidade começa em não julgar as mulheres magras dizendo que elas têm falta de empatia e o escambau a quatro. A sororidade não deve ser seletiva, expanda o horizonte que tem gente muito menos vista que nós, mulheres gordas. Um beijo a todas as magras, seu sofrimento não é nem um pouquinho inferior ao de ninguém, nem comparável, nem nada. Vocês não tem privilégios (pois, pela palavra, significa algo para poucos, se assim o fosse, magros seriam quem?) tem o que serem humanos em seu peso normal devem ter.

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