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LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Por que as mulheres reproduzem machismo?

Me ensinaram a pensar assim... e agora?

Por que as mulheres reproduzem machismo? Quais os mecanismos discursivos de (re)produção e sustentação da ideologia machista? Mulheres podem ser machistas mesmo não se beneficiando do machismo? Reproduzir machismo equivale a ser machista? 

Estas foram algumas perguntas que me fiz há alguns anos quando comecei a ter contato mais íntimo com o movimento feminista ao mesmo tempo em que comecei a me dar conta de discursos machistas que eu reproduzia mais inconscientemente que conscientemente. Porém, somente a cerca de um ano eu comecei a ter respostas mais embasadas, teoricamente falando.
Apesar de saber que nós mulheres reproduzimos machismo porque desde que nascemos nós somos inseridas numa sociedade machista que condiciona nossos pensamentos para que a ideologia machista seja internalizada e aceita por nós, isso nunca me bastou. Não me bastou porque mesmo depois de saber que nós somos ensinadas a reproduzir machismo, mesmo de forma rara, eu continuava a reproduzir machismo. E isso me incomodava bastante porque apesar de ter consciência do que é machismo, por que é que eu continuava, mesmo que menos frequentemente que antes, a reproduzi-lo? Por que isso acontecia? Seria eu uma mulher machista? Foi então que eu percebi que a questão era mais complexa, que machismo não é só prática social, tampouco só ideologia, machismo é o pilar do Patriarcado: sistema de dominação-exploração da mulher pelo homem/cis (SAFFIOTI, 1987).
Estudando sobre sistemas de opressão, eu percebi que em toda opressão há relações assimétricas ou hierárquicas de poder, ou seja, em toda opressão há hegemonias: poder ou domínio que um grupo privilegiado socialmente exerce sobre os demais (minorias políticas/sociais) (CF. RESENDE; RAMALHO, 2006). Diante desse quadro, eu passei a questionar profundamente a assertiva "mulher machista", pois NENHUMA mulher, independente da raça/etnia, classe social, orientação sexual, idade, peso, altura... se beneficia do machismo, logo nenhuma mulher ocupa o lugar de poder nessa opressão. Ficou evidente para mim que reproduzir machismo não equivale a ser machista, mas equivale a sustentar essa opressão. E foi aí que uma frase da Simone de Beauvoir me fez todo sentido "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos". 
Se você, cara leitora, pensa que eu parei por aí, sinto em dizer que está enganada. Isso ainda não me bastava como explicação, pois como é que uma mulher é cúmplice de algo que a prejudica? Que a inferioriza? Que a subordina aos homens/cis? Seriamos nós, mulheres, trouxas? Pois se nem nós feministas estávamos isentas de reproduzir machismo, mesmo que inconscientemente, quem dirá mulheres que não ouviram a palavra do feminismo? 
Diante disso, eu quis saber quais os mecanismos de reprodução, naturalização e sustentação do machismo e o porquê é tão difícil deixar de reproduzi-lo, de como desconstruir ideais machistas é um processo constante, árduo e longo, porém libertador. 
Para entendermos os mecanismos discursivos de reprodução e sustentação da ideologia machista, é preciso que nós saibamos o que é ideologia e o que é discurso já que estes são conceitos indissociáveis a essa questão. 
Os conceitos de discurso e ideologia que adoto provém da Teoria Social do Discurso, uma abordagem da Análise de Discurso Crítica (ADC), cunhada pelo linguista britânico Norman Fairclough, a qual se baseia em uma percepção da linguagem “como parte irredutível da vida social dialeticamente interconectada a outros elementos sociais” (RESENDE; RAMALHO, 2006, p.11), por isso, nessa abordagem de ADC, o discurso é concebido como prática social, linguagem em uso. A noção de ideologia da ADC provém de estudos do sociólogo John Brookshire Thompson (1995), nos quais o autor apresenta um conceito negativo de ideologia, pois esta, para Thompson, é necessariamente hegemônica na medida em que “serve para estabelecer e sustentar relações de dominação e, por isso, serve para reproduzir a ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes” (RESENDE; RAMALHO, 2006, p.49), ou seja, a ideologia está a serviço dos interesses de determinados grupos hegemônicos. 
Segundo Fairclough, a ideologia é mais efetiva quando sua ação é menos visível, ou seja, quando o indivíduo que a reproduz no discurso faz isso sem perceber conscientemente. A ideologia funciona mais no inconsciente, por isso desconstruir ideologicamente discursos é um modo de revelar relações de dominação-exploração ou fazer com que o indivíduo perceba que reproduz algo que sustenta sua posição de subordinação a um sistema social de opressão. 
A ideologia é mais efetiva quando sua ação é menos visível. Se alguém se torna consciente de que um determinado aspecto do senso comum sustenta desigualdades de poder em detrimento de si próprio, aquele aspecto deixa de ser senso comum e pode perder a potencialidade de sustentar desigualdades de poder, isto é, de funcionar ideologicamente (FAIRCLOUGH, 1989, p. 85 apud RESENDE; RAMALHO, 2006, p. 22).
O patriarcado enquanto sistema social de dominação-exploração da mulher pelo homem/cis tem sua perpetuação através da reprodução e, consequentemente, sustentação da ideologia machista. Por isso que as mulheres que reproduzem machismo são, nesse sistema, fundamentais para a manutenção dessas relações assimétricas entre os gêneros. O feminismo é marginalizado socialmente justamente porque ele se propõe a ''desvendar'' a ideologia presente nos discursos machistas reproduzidos pelas mulheres, para, dessa forma, fazer com que elas percebam a problemática em reproduzir algo que sustenta sua posição de sujeitamento numa estrutura social que tem como base a hierarquização de gêneros.
Em Ideologia e cultura modernaThompson (1995) considera que há no discurso construções simbólicas ideológicas que funcionam como mecanismos de (re)produção e manutenção das relações sociais de dominação-exploração. Cinco modos gerais de operação da ideologia são elencados por ele: a legitimação, a dissimulação, a unificação, a fragmentação e a reificação. Usarei, portanto, tais modos de operação da ideologia para tentar explicar os mecanismos de (re)produção e sustentação de uma ideologia em específico, a ideologia machista.
Por meio da legitimação, por exemplo, relações de dominação-exploração, ou seja, sistemas de opressão, são estabelecidos e sustentados através do consenso social de que elas são justas e dignas de apoio. Por exemplo, durante séculos a mulher/cis foi vista como apêndice masculino, como sendo um "macho imperfeito" por não ter um pênis (DUBY, PERROT, 1993), diante disso, não só a cultura, mas o discurso médico e científico subordinavam o papel da mulher na sociedade e, por isso, durante séculos, esses discursos eram tidos como legítimos, isto é, não só aceitáveis, mas dignos de apoio social. 
O discurso filosófico também não se isentava de subordinar a situação feminina. Aristóteles, por exemplo, afirmava que “a fêmea é fêmea em virtude de certas faltas de qualidade”. Na Antiguidade Platão dizia que "os homens covardes que foram injustos durante sua vida, serão provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem”. Talvez você diga, "hoje esses discursos não têm sentido de ser... os mesmos efeitos que antes, mas na época eram aplaudidos". Porém, ainda hoje tentam ofender os homens os chamando de ''mulherzinhas''. Mesmo discurso com outra roupagem sim ou claro? 
Uma forma de legitimar o machismo, atualmente e, portanto, fazer com que as mulheres o reproduzam sem perceber que esse discurso não é digno de apoio, é a culpabilização da vítima de estupro. Quando as pessoas dão mais atenção a roupa da mulher que ao ato do agressor elas estão legitimando a ideia de que a mulher é a responsável pela agressão feita pelo homem. 


Uma Mulher é uma filha, uma Irmã, uma Esposa e uma Mãe, um mero apêndice da Raça Humana - Richard Steel (séc.XVIII). 
Apesar de essa frase ter sido dita na Idade Moderna, séc. XVIII, até hoje, século XXI, a ideologia machista e misógina por trás dela ainda se faz presente. Isso se dá através da reificação (e também da legitimação, pois um modo de operação da ideologia não necessariamente exclui um outro, apenas por questões didáticas estou explicando separadamente) a qual é outro modo de operação da ideologia que se caracteriza por representar um dado histórico, logo uma construção social, por exemplo, como natural e permanente (logo, imutável). Seja através da naturalização da objetificação dos nossos corpos; de práticas culturais misóginas, seja por meio da naturalização e eternalização da nossa subordinação em frente a um sistema social de dominação masculina, a mulher ainda é definida, em grande parte, a partir da sua relação com (ou para com) o homem/cis.
Discursos machistas e heteronormativos contribuem para a manutenção, eternalização, desse status quo. Quando nos dizem "Uma mulher só se completa com um homem ao seu lado, sempre foi assim", "Toda mulher precisa de um homem para ser feliz", "Você se realizará completamente quando encontrar um bom homem", "Isso é falta de sexo/com homem", "Toda mulher precisa de um homem que a proteja, isso é o natural das coisas", entre outros, o que a pessoa está querendo dizer, mesmo que nem ela se dê conta, é de que você só será um ser humano completo com um homem/cis ao seu lado. A legitimação e reificação desses discursos se dá pela universalização e naturalização de que toda mulher é hétero e de que toda mulher precisa de um homem/cis. 


Em O Segundo Sexo (1949, p. 72), Simone de Beauvoir diz que "o homem é definido como ser humano e a mulher como fêmea: todas as vezes que ela se conduz como ser humano, afirma-se que ela imita o macho", apontando, assim, para a situação de sub-humana com que a mulher era (era?) tratada.
Tal acusação de imitação do macho ocorre atualmente quando, por exemplo, a mulher se empodera e passa a ter o controle sobre as decisões de sua vida, incluindo em como ela lida com seu corpo, com a expressão de sua sexualidade, de suas aspirações, ambições. Não é à toa que muitas pessoas pensam que feministas são mulheres que querem ser iguais aos homens/cis, e isso por quê? Por que lutamos por nossos direitos reprodutivos? Pela nossa emancipação, empoderamento? Pela equidade social entre os gêneros? Pelo direito de sermos respeitadas não pelo que vestimos, mas pelo que somos: seres humanos? 



Coincidentemente, hoje eu vi um exemplo claro de reificação. Dessa vez, sobre a maternidade compulsória. Foi em uma notícia, sobre uma mulher, britânica, de 29 anos, dando seu depoimento sobre a luta que ela travou para tentar conseguir convencer os médicos da rede pública a fazerem uma laqueadura nela. A resistência dos "profissionais" demostra a eternalização daquele discurso que diz que "Toda mulher quer ser mãe" ou "Uma mulher só se completa quando tem filhos".


Outro exemplo de naturalização e sustentação do machismo na nossa sociedade ocorre através das chamadas "piadas machistas", nas quais situações abusivas, opressoras, são construídas de modo a parecerem "brincadeiras", logo legítimas, e, portanto, aceitáveis. 



A imagem acima é uma reprodução do livro Piadas sobre meninas: para meninos lerem, no qual discursos machistas são naturalizados de modo a fazer com que as meninas sejam humilhadas e os meninos pequenos-futuros grandes misóginos. Por que as mulheres reproduzem machismo? Porque elas são obrigadas a lidarem com ele ainda meninas, crianças.
Outro modo de operação da ideologia é a dissimulação por meio da qual relações de dominação-exploração são sustentadas por meio de sua negação ou ofuscação. No caso da ideologia machista, um discurso que camufla a opressão de gênero é "O feminismo é desnecessário no Brasil, as mulheres já conquistaram o que tinham que conquistar" ou "O machismo só vai acabar quando nós deixarmos de falar dele". De tanto escutarem que "Já conquistaram o que já tinham que conquistar" muitas mulheres criam resistência ao movimento feminista. Aliás, criam até aversão. 



Outra prática social de dissimulação ocorre quando em situações de feminicídio a mídia camufla o agressor, ofuscando o machismo presente no assassinato da mulher. 

Quem matou a jovem foi o "whatsapp" ou seu ex-parceiro, homem controlador, que se achava dono de sua vida?
Muitas mulheres reproduzem a ideia de que a mulher foi a culpada pela agressão sofrida justamente porque circula, na sociedade, discursos que legitimam, naturalizam e dissimulam o comportamento masculino abusivo.
Outro modus operandi da ideologia é a unificação, através da qual sistemas de opressão são estabelecidos e sustentados por meio da construção simbólica da unidade. Quando se padroniza a ideia de que "Somos todos iguais" se ofusca as especificidades de determinadas minorias políticas, como no caso das mulheres que precisam lutar para terem seus direitos garantidos não só legalmente, mas também na prática. Outra forma de unificação é dizer que "As mulheres são mais emotivas, os homens mais racionais", pois se padroniza a ideia de que toda mulher usa mais da emoção que da razão, e todo homem é mais racional que emotivo, o que é falho e faz com que as mulheres deixem, por exemplo, de fazer cursos da área das ciências exatas porque "Isso é coisa de homem". Elas reproduzem isso porque a sociedade acredita nisso.
O último modo de operação da ideologia elencado por Thompson é a fragmentação. Na fragmentação sistemas de dominação-exploração são estabelecidos e sustentados por meio da segmentação ou divisão de indivíduos ou grupos oprimidos que, se unidos, poderiam formar uma contra-hegemonia a manutenção do poder pelo grupo dominador e privilegiado. No patriarcado, um exemplo de fragmentação enquanto modo de operação da ideologia machista é o discurso que diz que "Toda mulher é rival". Esse discurso foi-se construindo historicamente como um referencial de comportamento feminino para fazer com que as mulheres internalizem, aprendam, desde cedo, que elas são rivais, e, ainda, que necessitam disputar atenção de homem/cis. No feminismo, a sororidade vem justamente para desconstruir essa ideia através da proposta da irmandade feminina, união das mulheres.
Reiterando o que afirmei anteriormente, expliquei os modos de operação da ideologia de forma isolada por questões didáticas, mas geralmente, em um mesmo discurso, é encontrado duas ou mais formas simbólicas de construção da ideologia. Nesse caso, como o assunto do texto é machismo, a ideologia a que me referi foi a machista. Contudo, por analogia, pode-se concluir de forma geral como a ideologia racista, a ideologia gordofóbica, a ideologia ace/bi/homo/lesbofóbica, a ideologia transfóbica... é construída no discurso, prática social, de modo a sustentar relações de dominação-exploração e fazer com que os indivíduos oprimidos a reproduzam.
Diante desse quadro, vimos que as mulheres reproduzem machismo porque machismo é uma ideologia que nos é internalizada através de construções simbólicas discursivas veiculadas em práticas sociais, vimos que as mulheres reproduzem machismo porque machismo é o pilar do Patriarcado: sistema de opressão de gênero vigente. Mulheres não são machistas porque não ocupam um lugar de poder e privilégios nesse sistema de dominação-exploração, porém mulheres ao reproduzirem machismo contribuem para a manutenção desse sistema, ao fazer com que a ideologia dele seja sustentada. A diferença entre os homens/cis que reproduzem machismo e as mulheres que reproduzem machismo é que só os primeiros podem ser chamados de machistas porque não só reproduzem o machismo, mas dele se beneficiam, pois nessa opressão são eles que ocupam o lugar de poder. Apontar isso não quer dizer que devemos isentar as mulheres de sua parcela de contribuição para a permanência do machismo, mas sim apontar para elas, ou melhor, para nós mesmas, que estamos dando um tiro no nosso próprio pé ao reproduzimos machismo.
   

REFERÊNCIAS


BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo – a experiência vivida; tradução de Sérgio Millet. 4 ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980a.
______. O Segundo sexo – fatos e mitos; tradução de Sérgio Milliet. 4 ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980b.
DUBY, G. PERROT, M. História das mulheres:  Do Renascimento à Idade Moderna – volume 3. Porto: Afrontamento, 1993.
FAIRCLOUGH, N. Language and Power. New York: Longman, 2003.
RESENDE, V. M.; RAMALHO, V.. Análise de discurso crítica. São Paulo: Contexto, 2006.
SAFFIOTI, H. I. B. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.
THOMPSON, J.B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.


Lizandra Souza.

Comentários

  1. Entendi
    É tipo
    Vou reproduzir comentários machistas/heteronormativos/racistas/transfóbicos para ganhar biscoito da elite que me oprime

    ResponderExcluir
  2. Qual a mágica para eu fazer meu namorado compreender isso tudo e parar de reproduzir essa lógica de opressão bacana?

    ResponderExcluir
  3. Desculpe, mas eu tive de compartilhar isso na minha timeline do facebook, mesmo sem sua permissão!
    Qualquer coisa, se achar ruim eu retiro...

    ResponderExcluir
  4. Olá, gostaria que você me tirasse uma dúvida. A frase: "Sua masculinidade é mais frágil que minha calcinha de renda", seria um caso claro de machismo? Afinal, a autora ao fazer tal afirmação, de maneira óbvia, define (mensura) o que é masculinidade ou não, apartir de um paradigma, criado por ela mesma.
    Ps: A frase foi escrita por um grupo de senhoritas que lutam pela igualdade, e maior acesso feminino, dentro do curso de Geografia.

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    Respostas
    1. Não, não é uma frase machista, é uma frase que usa de ironia e contradiscurso ao discurso hegemônico machista que precisa diminuir o gênero feminino com a história do "mulher é o sexo frágil" pra enaltecer a masculinidade, que é tão frágil que precisa diminuir as mulheres pra ser "forte"!

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