Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Atividade de casa não é ''coisa de mulher'': trabalho doméstico a gente faz com as mãos, não com a genitália


Toda vez que eu escuto que ''Homem não foi feito para atividades de casa'' e que "Trabalho doméstico é coisa mulher'' eu imagino a seguinte cena: a mulher pede ao marido para ajudá-la nos afazeres domésticos, ele então tira a roupa e sai lavando a louça com o pinto, varrendo a casa com o pinto, cozinhando com o pinto e tirando o lixo com o pinto. De tanto usar o pinto, ele fica sem, então ela percebe que ele não foi feito para atividades de casa e volta a fazer tudo sozinha com sua buceta. E segue ela lavando a louça com a buceta, varrendo a casa com a buceta, cozinhando com a buceta... ao contrário do companheiro, a genitália dela milagrosamente não cai, talvez por não ser frágil ou pendurada. Vai saber.
Só queria que esse último semestre de 1666 acabasse logo. Mas enquanto ele não tem fim, vamos refletir. E vamos tirar um pouquinho do nosso tempo para fazer os outros ao nosso redor refletirem também sobre esses papéis sexistas e machistas ainda tão cristalizados e que não fazem mais sentido de ser atualmente. Não vamos mais ignorar discursos assim, nem práticas assim em nossas casas. 
Meninas devem aprender a cozinhar não pensando em casamentos, mas no fato de que um dia elas mesmas precisarão fazer a própria alimentação, o mesmo para os meninos. Já imaginou que loucura o garoto crescer e não saber fritar um ovo, fazer um café, lavar uma louça? Ficar sempre esperando que uma mulher lhe entregue tudo nas mãos, dessa forma, quando chegar a hora de casar, se ele quiser casar, ele procurará uma empregada, não uma esposa. Aliás, nos criam exatamente para isso: para sermos empregadas de machos. O menino vai jogar bola enquanto a menina faz a refeição com a mãe, após o almoço o menino vai assistir TV com o pai enquanto a menina tira a mesa com a mãe e a ajuda enxaguando os pratos. O mesmo na janta. O mesmo no café da manhã. Um dia a mãe falta, quem será a responsável pela casa? A menina, a mulher. Ele tem mais tempo para se divertir, para estudar, ela não. Mas todos comem. Todos precisam de roupas limpas. Todos gostam de uma casa bem cuidada. E todos podem ter tarefas semelhantes ou adequadas a sua idade e ocupação.
Atividades de casa não é ''coisa de mulher'': trabalho doméstico a gente faz com as mãos, não com a buceta. Atividades de casa é coisa de quem mora na casa, a obrigação deve ser de todos. E não se trata de ajuda em si, mas de divisão. Assim como cuidar dos filhos. Quem tem a obrigação é quem fez, ou seja, ambos os companheiros, não só a mulher. A ética, o caráter, a sensibilidade, a empatia, a educação, é dever dos pais, não só da mãe. E tais valores devem ser igualitários para ambos os gêneros. Nada de ensinar as meninas a ''se preservarem'' e aos meninos que eles são como ''bodes que perseguem as cabritas'' ("prendam suas cabritas que meu bode está solto"). Animalizam até a sexualidade dos machos. É ridículo isso. É ridículo também incentivar carreeiras dispares aos filhos com intenções sexistas baseadas em papéis de gênero estereotipados do tipo meninos são mais racionais, devem seguir careiras mais contempladas pelas ciências exatas, já asa meninas são mais subjetivas, emocionais, são mais adequadas a seguirem careiras moldadas pelas humanas... E depois reclamam da falta de mulheres na matemática, física, etc.
É de casa que essa prática sexista machista tem que mudar, é na educação dada as crianças. Meninas e meninos desde cedo têm que aprender a viverem em harmonia e equidade, para assim socialmente seus comportamentos não serem tão desiguais.




Lizandra Souza.

Comentários

  1. Menina você é maravilhosa!casa comigo(obs:sou assexuada) continue com seus ideais e não ligue para o que os outros pensem de você.(adorei o que você escreveu sobre os assexuados)bjs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

Postagens mais visitadas deste blog

História do adultério: modelos de comportamentos sexistas com dupla moral

Belmiro de Almeida - Arrufos, 1887 A história do adultério é a história da duplicidade de um modelo de comportamento social machista, possuidor de uma moral dupla, segundo a qual os homens, desde quase todas as sociedades antigas, tinham suas ligações extraconjugais toleradas, vistas como pecados veniais, sendo assim suas esposas deveriam encará-las como "pecados livres", que mereciam perdão, pois não era o adultério masculino visto como um pecado muito grave (a não ser que a amante fosse uma mulher casada), enquanto as ligações-extraconjugais femininas estavam ligadas a pecados e a delitos graves que mereciam punições, pois elas não só manchavam a honra e reputação da mulher adúltera, mas também expunham ao ridículo e ao desprezível seu marido, o qual tinha a validação de sua honra e masculinidade postas em jogo. Esse padrão social duplo do adultério teve sua origem nas culturas camponesas "juntamente com a crença de que o homem era o provedor da família e era

10 comportamentos que tiram o valor de um homem

   Hoje em dia os homens (cis, héteros) andam muito desvalorizados. Isso faz com que muitos sofram amargamente nas suas vidas, sobretudo na vida amorosa.  Outro dia eu estava vendo uns vídeos de forró, funk, sertanejo e fiquei chocada com o comportamento vulgar dos rapazes. Agora deram pra ralar até o chão como um bando de putinhos a busca de serem comidos... e a gente, mulherada, já sabe que se o boy rala o pinto no chão é porque ele é um homem rodado, um mero bilau passado.    Antigamente, no tempo de nossas avós, o homem era valorizado pelo seu pudor virginal, não pela sua aparência. Homens eram um prêmio a ser alcançado pelas mulheres, eles tinham que ser conquistados, ganhados. Hoje em dia, muitos machos estão disponíveis para qualquer mulher num estalar de dedos. Escolhe-se um macho diferente a cada esquina. E a mídia ainda insiste em dizer que homem pode dar pra quantas ele quiser, fazendo os machos assimilarem uma ideia errada e vulgar que os levarão a serem infe

Vamos falar de misandria?

 O que é misandria no feminismo?   É o ódio generalizado aos homens?   N Ã O.  A misandria geralmente é dicionarizada como sendo o ódio aos homens, sendo análoga a misoginia: ódio às mulheres. Esse registro é equivocado e legitima uma falsa simetria, pois não condiz com a realidade social sexista vivida por homens e mulheres. Não  existe uma opressão sociocultural e histórica institucionalizada que legitima a subordinação do sexo masculino, não existe a dominação-exploração estrutural dos homens pelas mulheres pelo simples fato de eles serem homens, todavia existe o patriarcado: sistema de dominação-exploração das mulheres pelos homens, que subordina o gênero feminino e legitima o ódio institucional contra o sexo feminino e tudo o que a ele é associado, como, por exemplo, a feminilidade. Um exemplo: no Nordeste é um elogio dizer para uma mulher que "ela é mais macho que muito homem", tem até letra de música famosa com essa expressão, contudo um homem ser chamado de

Hétero-cis-normatividade, o que é?

Nossa sociedade é hétero-cis-normativa. Isso significa que a heterossexualidade e cisgeneridade são compulsoriamente impostas. Não, não estou dizendo que vocês, heterossexuais-cis, são héteros-cis por compulsão. Quero dizer que há um sistema social que designa TODO MUNDO como sendo hétero-cis ANTES MESMO do nascimento e posteriormente tudo o que foge disso é considerado anormal, imoral e, em muitas sociedades, ilegal.  Antes mesmo de a pessoa nascer, desde o ultrassom, quando é identificado que ela tem pênis ou vagina, há imediatamente uma marcação sexual e de gênero: se tem vagina, vai ter que ser menina, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menina'' e, por isso, vai ter que gostar de menino; se tem pênis, vai ter que ser um menino, se comportar como é concebido e estabelecido socialmente como "comportamento de menino'' e, por isso, vai ter que gostar de menina. E aí, quando a pessoa com vagina ou com pênis

"We Can Do It!": você conhece a origem de um dos grandes símbolos do movimento feminista?

We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943. We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) é a legenda de uma das imagens mais conhecidas do movimento feminista. Foi bastante usada a partir do início dos anos 80 do século passado para divulgar o feminismo, desde então várias releituras foram sendo feitas da imagem da moça trabalhadora, usando um lenço na cabeça,  arregaçando as mangas, mostrando um musculoso bíceps e passando a ideia de que "sim, nós mulheres podemos fazer isso!" (sendo este "isso" as atividades tradicionalmente convencionadas aos homens*) ao mesmo tempo em que  se desconstrói a ideia machista de "mulher sexo frágil". Contudo, o que muitas pessoas não sabem é que a imagem foi criada algumas décadas antes, em 1943, e que não tinha nenhuma ligação com a divulgação do feminismo. We Can Do It! originalmente foi um cartaz idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos, criada  por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse El