Pular para o conteúdo principal

LITERATURA FEMINISTA: CRÔNICAS, (MINI)CONTOS, POEMAS, RESENHAS E MAIS!

Facebook br e o silenciamento das ativistas feministas...


Ser mulher, feminista, LGBT+ e/ou pessoa negra e militar virtualmente no Facebook vem se demostrando nos últimos anos um ato de pura resistência. Cada vez mais ativistas das mais variadas causas recebem ataques em massa de grupos reacionários e têm suas contas e páginas de militância bloqueadas pela equipe FB br por supostamente ferir os padrões da rede. E é aí que fica a dúvida, quais padrões são esses? 
Segundo as políticas do mecanismo de denúncia do próprio Facebook, nós podemos denunciar perfis, páginas e publicações se neles tiverem a reprodução de discurso de ódio a um sexo, etnia, crença,  orientação sexual... apologia/incitação ao crime, conteúdo sexualmente explícito/nudez/pornografia, posts que descrevam a compra ou venda de drogas, de armas ou produtos adultos... conteúdo que seja ameaçador, violento ou suicida entre outros. Na teoria isso é lindo, afinal são padrões que prezam pelos direitos humanos, pela integridade e segurança das pessoas conectadas a rede. Mas na prática as coisas funcionam bem diferentes. Ao que parece, para a equipe que recebe e analisa as denúncias ocorridas na comunidade, o que importa não é o conteúdo do que foi denunciado, mas a quantidade de denúncias que ele recebeu, o que deixa nós, ativistas, vulneráveis a ataques em massa, de grupos reacionários, os quais, se pensarmos bem, ainda fazem parte das hegemonias, logo têm maior poder de articulação.
Diante disso, a forma como a equipe que trata das denúncias enviadas ao FB br vem servindo para silenciar ativistas a medida que exclui o que postamos e nos bloqueia sendo que o que postamos não fere os padrões da comunidade, mas sim a sustentação das hegemonias. Um exemplo disso são as páginas feministas desativas pelo FB por receberem ataques em massa de machistas e misóginos.
Diários de uma feminista já recebeu muitos ataques de misóginos, machistas, LGBTfóbicos, racistas... justamente porque incomoda. E incomoda porque é uma página de feminismo interseccional, dedicada a falar sobre questões de gênero, etnia, classe, sexualidade... isto é, assuntos que em uma sociedade machista, misógina, racista, elitista, LGBTfóbica... são colocados a margem justamente para se manter o status quo social que privilegia maiorias políticas em detrimento da opressão de minorias políticas (vejamos políticas, não sociais!) como mulheres, pessoas negras, LGBT+, pessoas com deficiência. 
Comecei a usar o FB em 2012 e de lá para cá já tive um pouco mais de 10 contas. Isso não porque feri os padrões do FB, mas porque tive contas bloqueadas por sofrer ataques de reacionários e/ou haters. Atualmente tenho 4 contas, isso evita de eu ser totalmente silenciada, pois quando sou bloqueada em uma, recorro a outra e assim não deixo de administrar a minha página. 
Na última terça-feira (22/03/2016), justamente no dia que meu perfil principal saía de um bloqueio de 7 dias por ter exposto parcialmente uma racista, eu fiquei sabendo que uma das maiores páginas feministas do Brasil, a Feminismo sem demagogia, foi mais uma vez desativada pelo FB. E isso por quê? Porque mais uma vez ela sofreu ataques em massa de grupos misóginos e machistas. 

Verinha é uma das administradoras da FSD.

Fico me perguntando como uma página que promove pautas a respeito do empoderamento feminino, dos direitos das mulheres (entre outras minorias políticas) pode ferir aqueles padrões que mencionei anteriormente. Fica óbvio que a página foi desativada (temporariamente?) porque incomodou reacionários e assim tentaram silenciar as mulheres feministas que trabalham nela. É revoltante saber que essas mulheres foram silenciadas injustamente por lutarem contra sistemas de dominação-exploração (a página é de vertente marxista, logo faz recorte de gênero, classe, raça...). Essa não é a primeira vez que isso acontece com a FSD, outro ataque desses que resultou no bloqueio temporário da página ocorreu em novembro de 2015. Espero que seja um bloqueio temporário, como o último, para que a página volte a ser reativada. Hoje conversei pelo FB com a Verinha, e segundo ela até agora nada de o FB reativar a página ou dar alguma notificação sobre a situação da mesma.  
Recentemente, fiz alguns posts comentando sobre esse mecanismo desonesto do FB, que remove posts e bloqueia usuários não pelo conteúdo do que é publicado, mas pela quantidade de denúncias. E pelo visto isso (silenciamento de ativistas) ocorre com mais frequência do que  a gente imagina. Gostaria de inserir, abaixo, dois depoimentos a respeito desse assunto. 




Por esses dois comentários, podemos ter uma ideia quase "desenhada" de como funciona o mecanismo de denuncia do FB mencionado anteriormente. 
Para finalizar, gostaria de mencionar/indicar um artigo que li na Carta Capital, publicado em fevereiro deste ano, intitulado Facebook, afasta de nós esse cáliceque aborda justamente o assunto do post a respeito das pessoas ativistas que vêm sendo bloqueadas por conta de denúncias aleatórias. 


Lizandra Souza.

Comentários

  1. Acho engraçado esse facebook...
    Paginas de cunho misógino, que faz apologia a violência contra mulheres, que ofendem mães solteiras, que defendem estupro e pedofilia,essas são incrivelmente imunes a denúncias.
    A página misógina e escancaradamente hipócrita:"Não mereço mulher que usa roupa de pra", só pra desvendar todo esse porque, quem administra são justamente os que trabalham no suporte do facebook Brasil.
    Eis a razão de fazermos tantas denúncias e eles reportarem.
    Até pq eles são cínicos de postarem isso na página, justamente pra todos que são contra, verem que é dar tiro no escuro.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!

Postagens mais visitadas deste blog

Vamos falar de misandria?

 O que é misandria no feminismo?   É o ódio generalizado aos homens?   N Ã O.  A misandria geralmente é dicionarizada como sendo o ódio aos homens, sendo análoga a misoginia: ódio às mulheres. Esse registro é equivocado e legitima uma falsa simetria, pois não condiz com a realidade social sexista vivida por homens e mulheres. Não  existe uma opressão sociocultural e histórica institucionalizada que legitima a subordinação do sexo masculino, não existe a dominação-exploração estrutural dos homens pelas mulheres pelo simples fato de eles serem homens, todavia existe o patriarcado: sistema de dominação-exploração das mulheres pelos homens, que subordina o gênero feminino e legitima o ódio institucional contra o sexo feminino e tudo o que a ele é associado, como, por exemplo, a feminilidade. Um exemplo: no Nordeste é um elogio dizer para uma mulher que "ela é mais macho que muito homem", tem até letra de música famosa com essa expressão, contudo...

Feminismo, uma questão de igualdade ou de equidade?

Para mim, feminismo não é sobre ''igualdade de sexo'', ''igualdade entre os gêneros'', ''igualdade entre homens e mulheres''. Isso nunca vai existir. Mulheres e mulheres não são iguais, muito menos mulheres e homens. Feminismo não existe para pregar que mulheres sejam iguais aos homens. Eu não quero me igualar a um gênero opressor. Eu não quero que ocorram 5 espancamentos de homens, por mulheres, no Brasil, a cada 2 minutos. Eu não quero que 1 homem seja estuprado a cada 12 minutos no Brasil. Eu não quero que a cada 90 minutos 1 homem morra por questão de gênero. Eu não quero que cerca de 180 homens, por dia, relatem agressões sofridas em um sistema de atendimento de denúncia só para homens. Eu não quero que 43 mil homens sejam assassinados, 43% em casa, em 10 anos, por mulheres só por serem homens. Eu não quero que homens ganhem menos que mulheres só por serem homens, mesmo havendo na lei que não é permitida discriminação por gênero...

O (não) uso do sutiã e a problematização feminista

A nova onda virtual feminista da vez é problematizar o uso do sutiã sem recorte histórico, social e individual. Por um lado, algumas militantes dizem que ''não usar sutiã é revolucionário'' e que ''a mulher que usa está se prendendo a moldes patriarcais de censura do corpo feminino'', do outro, outras alegam que ''não usar sutiã não é revolucionário ou empoderador'' e que ''só não usa quem tem "peito padrão", quem tem peito pequeno, quem está mais próxima do padrão estético de beleza''. A era do 8 ou 80... Muito pensamento autoritário e extremo/fechado de ambos os lados. Eu vou problematizar o uso do sutiã enquanto objeto criado pra, por exemplo, ''camuflar mamilos femininos'', "dar outra aparência aos seios da mulher", "evitar [algo natural do corpo humano] que os seios caiam".  Mesmo depois de mais de um século de sua existência, ainda há hoje todo um tabu sobre o...

"We Can Do It!": você conhece a origem de um dos grandes símbolos do movimento feminista?

We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943. We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) é a legenda de uma das imagens mais conhecidas do movimento feminista. Foi bastante usada a partir do início dos anos 80 do século passado para divulgar o feminismo, desde então várias releituras foram sendo feitas da imagem da moça trabalhadora, usando um lenço na cabeça,  arregaçando as mangas, mostrando um musculoso bíceps e passando a ideia de que "sim, nós mulheres podemos fazer isso!" (sendo este "isso" as atividades tradicionalmente convencionadas aos homens*) ao mesmo tempo em que  se desconstrói a ideia machista de "mulher sexo frágil". Contudo, o que muitas pessoas não sabem é que a imagem foi criada algumas décadas antes, em 1943, e que não tinha nenhuma ligação com a divulgação do feminismo. We Can Do It! originalmente foi um cartaz idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos, criada  por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse El...

Glossário de termos usados na militância feminista (atual)

Já participou daquele(s) debate(s) feminista(s) e vez ou outra leu/ouviu uma palavra ou expressão e não soube o significado? E cada vez mais, em debates, você passou a ler/ouvir aquela(s) palavra(s)? E o tempo foi passando e mais termos e expressões foram surgindo? E o pior, você pesquisou no Google o significado e não achou? E as palavras, muitas vezes, não existiam nos dicionários formais? Se você respondeu sim, em pelo menos duas perguntas, aconselho conferir o glossário virtual a seguir, no qual pretendo expor e explicar brevemente alguns dos termos e expressões mais usados no meio do ativismo, em especial o virtual. Além dos vários termos e expressões que são usados há décadas nos meios feministas, nós temos também muitos termos e expressões usados atualmente na militância feminista que são fenômenos advindos dos estudos contemporâneos de gênero, outros, ainda, são resultantes da própria necessidade de ressignificação que determinadas pa...